Esperando Jesus voltar

13 de setembro de 2021 1 Por Leandro Marçal

Não quero insinuar nenhum valor científico nisso, mas tenho a impressão de que muitos ateus creem (!) ser mais inteligentes do que os religiosos ou crentes numa força superior qualquer, observando nossos infortúnios diários na Terra.

E nem quero pregar ceticismo, falar sobre proselitismo e conversão, gritar por um Estado laico ou expressar minha indignação contra toda intolerância religiosa nesse arremedo de país. Estamos cansados de repetir o óbvio, mesmo sendo tão necessário repetir o óbvio.

É que esses descrentes, fatalmente em tom de empáfia, costumam rir com o canto da boca ao ouvirem uma fala apaixonada sobre a volta de Jesus. Porque quando Ele voltar, dizem os religiosos, haverá justiça e resolução de todos os problemas mundanos, dos flagelos sociais ao bolo solado.

Daí, os céticos buscam brechas na argumentação bíblica, com o ânimo de um advogado mal pago durante a audiência, feito artilheiro de frente para o gol vazio depois da saída errada do arqueiro, sentindo-se a esposa ouvindo até o fim as desculpas esfarrapadas do marido justificando o batom na cueca.

Não posso responder com precisão de meteorologista se Jesus vai voltar, de olhos azuis e cabelos lisos, ou com as madeixas crespas e realistas, de sandália papete flutuando sobre as águas. Sinceramente, não posso responder e lamento muito. Mas essa espera ansiosa, olhando para o alto e caçando sinais, fortes sinais, frequentando cultos e portando livros antigos não é exclusiva dos cristãos. Não é só por Jesus que se espera.

Um otimismo de goela propõe dias melhores, em que todos os problemas irritantes do dia a dia ficariam para trás. O coachismo da moda fala em resultados incríveis como recompensa de todo o esforço das primeiras horas da manhã. Tem o crossfitismo das redes sociais, propondo ânimo para pegar mais peso, na busca por um corpo mais bonito. O manual da firma prega a promoção para quem melhor apresentar resultados, passando por cima do bom senso e dos colegas. Os conselheiros sentimentais falam na chegada inesperada do amor da sua vida, capaz de elogiar até o aroma das flatulências, reconhecendo a fermentação interna das ideias mais pesadas. Até o Chorão (aquele!) deixou avisado que os dias de glória são a sequência natural dos dias de luta das nossas histórias. Algo assim.

Sempre esperando. Há quem diga que precisamos de sonhos, até mesmo ilusões. E há quem ganhe um bocado de dinheiro com sonhos, enchendo os bolsos com ilusões.

Great times are coming, dizem. Do crente ao ateu, ninguém explica a esperança. Aquele estranho dia que nunca chega é um excelente nome de livro. Fico no aguardo, seja da volta de Jesus ou do fim da era de qualquer signo, e da recompensa pelos sacrifícios diários.