Um tarado por Fórmula 1

21 de fevereiro de 2022 1 Por Leandro Marçal

Meu amigo é tarado por Fórmula 1. Não quero deixá-lo constrangido, por isso usarei o nome fictício L.M. como identificação. O L.M. é tarado por Fórmula 1. Me lembra até outro amigo, um tarado por futebol, capaz de sair mais cedo de festas para assistir a jogos desinteressantes. O L.M. sempre dá um jeito na agenda, colocando um despertador para o compromisso sagrado de algumas manhãs de domingo, cancelando noitadas para não perder etapas disputadas do outro lado do mundo, plena madrugada por aqui.

Seus poucos fios de cabelo fazem esforço e se arrepiam quando o automobilismo vira assunto na mesa. Também escritor e jornalista, o L.M. já se empanturrou de filmes, livros, reportagens e vídeos no YouTube sobre a história da mais nobre categoria de monopostos (nem sei o que isso significa, mas o tarado por Fórmula 1 fala assim).

Tal mania exótica faz do L.M. um cara consideravelmente excêntrico. Quando provocado sobre esta ser uma competição para gente velha, revira os olhos e se enche de preguiça ao explicar detalhes da modalidade. Se instigado a um debate sobre a Fórmula 1 ser ou não um esporte, vomita dados e fatos históricos para contradizer os desavisados, convencendo cada um deles a entender a genialidade do Lewis Hamilton.

Você pode puxar qualquer fiapo de assunto sobre os ex-pilotos brasileiros: vai render horas de conversa. Do Schumacher? O cara sabe tudo do Schumacher. Também desagua em discussões a falaciosa afirmação de que a Fórmula 1 acabou em 1994, como dizem os amantes de vitórias e desinteressados por esportes, presentes a cada quatro anos para criticar atletas olímpicos.

Com a explosão amalucada das redes sociais, onde gente medíocre e frustrada se dá o direito de rebater temas técnicos com doutores e pós-graduados, o vício do L.M. nos carrinhos de corrida dando voltas e mais voltas aumentou. O fanático segue as equipes, pilotos, repórteres e personagens viajando o mundo atrás das histórias, pontos, ajustes mecânicos e melhor performance nas pistas.

Mas estamos preocupados. Falo em nome dos amigos e familiares do L.M. Desde o fim do ano passado, ele não anda bem. Para começar, não aceitou a estranha derrota do Lewis Hamilton para o Max Verstappen na última volta da última corrida, com rasuras no regulamento da competição. De lá para cá, é como se o L.M. tivesse engolido uma espinha de peixe no almoço. Ela ficou atravessada na garganta e deixou arranhões. O tarado por Fórmula 1 quer vingança.

E sua ansiedade só aumenta a um mês do início da temporada. Diz ele que o GP do Bahrein vai deixá-lo mais calmo e vai ser só o primeiro dos 23 compromissos nas pistas para ver na prática as mudanças nos carros e a busca pelo oitavo título do maior piloto da história (palavras dele, é bom deixar claro). Esse alucinado chegou a ver os eventos de apresentação das máquinas com rodas durante seu expediente. De todas as equipes, é bom ressaltar.

Não vejo a hora das corridas voltarem. Claro, não é por causa de mim, é pelo meu amigoEle é um tarado por Fórmula 1, impossível negar. E eu não tenho nada a ver com isso, mas me preocupo com o L.M.