Sensação de insegurança

22 de abril de 2024 0 Por Leandro Marçal

Num cenário hipotético, as estatísticas relacionadas à violência urbana melhoraram. Caíram os furtos, roubos e assaltos. Homicídios quase inexistem, e os raríssimos casos são prontamente investigados, seguindo os devidos procedimentos legais, com inquéritos solucionados pelas autoridades competentes. Quase ninguém ousa dar golpes financeiros. Mesmo assim, a população sente medo. Da calçada, da rua, da cidade, das notícias. É a sensação de insegurança alimentando monstrinhos dentro de tanta gente.

Num cenário real, muito real, uma sensação de insegurança nunca me abandonou. Mas é diferente. Nada a ver com violência urbana, tudo a ver com autoconceito, autoimagem e autoestima. Mesmo quando as minhas estatísticas pessoais, familiares e profissionais estavam em alta, eu sentia um medo além do normal, eu alimentava uns monstrinhos aqui dentro.

“Confia em mim!”, é uma frase que já repeti muito para outras pessoas. Recebia o crédito e ajudava alguém a seguir em frente. Mas nunca fui de confiar em mim. Nunca fui de confiar no meu potencial, na minha capacidade, nas minhas qualidades. Nunca tive uma autoestima que resvalasse num orgulho pessoal. E usava o humor autodepreciativo como camuflagem mal improvisada para a minha insegurança.

E já me dei mal por isso. Em bom português, já me fodi muito por ser inseguro. Sempre existe alguém capaz de enxergar as nossas fraquezas. E sempre existe gente capaz de usá-las a seu favor, para nosso azar e prejuízo. Mais que a ansiedade, essa desconfiança comigo é a minha kriptonita. E estou longe de ser um super-homem (nem quero).

Semana passada, tomei a pancada de um dos meus amigos mais próximos: “Você se subestima demais”, falou sem rodeios, sem aviso prévio, de forma seca e certeira. Nunca me achei, sempre me perdi. Precisei de bons anos de terapia para sair da permanente sensação de insegurança interna, como se as boas estatísticas estivessem prestes a ruir, sendo desmascaradas como farsa e manipulação, destruindo a credibilidade construída ao longo dos anos.

Também na terapia, aprendi como é difícil olhar para dentro. Escreveu José Saramago: “É necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós”. Faz sentido, faz muito sentido. Até hoje, me esforço diariamente para não me jogar para baixo quando ainda nem caí. E monitoro essa minha insegurança, bem maior do que uma mera sensação, para que o punitivismo interno não me condene injustamente.

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