Pai de selfie

7 de junho de 2021 0 Por Leandro Marçal

Fala sério, o Juninho não é a minha cara? Olha só o nariz pontudo, a bochechona, o olhão azul. Puxou o pai, fiz um bom serviço. O moleque vai dar trabalho. As novinhas que se cuidem. Meu, é foda, eu posto foto minha no Instagram, sozinho, pouca gente curte. Aí vou lá, coloco uma fotinha dele e bomba de gente. Mulherada adora, né? Moleque vai ser comedor, igual o pai. Faz dois anos dia 14. De junho ou de julho, eu nunca lembro. Vai ter uma festinha, claro, mas tive que dar uma segurada. A mãe dele, se deixar, me arranca até o último centavo. Sério, é que tu não conhece. Já passei muita raiva com aquela… bom, deixa quieto. Pra começar, amo o Juninho, mas foi um puta vacilo dela, não se cuidou direito, sobrou pra mim, né? A gente junto não dava certo, não. Pensa numa mulher chata. Não me deixava ir pro fut de segunda, reclamava de tudo, enchia o meu saco quando tava num churras. Meu, eu preciso ter o meu espaço, ver os meus amigos, aproveitar um pouco. Só trabalhar, trabalhar, pra chegar e ainda ver a casa uma zona, com a desculpa que a criança dá trabalho. Aí é mole, né? Mas tá cheio dessas aí, tu sabe. Acredita que a filha da puta ainda me botou no pau? Juro por Deus! Qual a necessidade disso, um juiz bater o martelo de quanto eu tenho que pagar pro meu filho? Aí tá nessa, todo mês sangrando 400 pau do meu bolso. Eu trabalhando pra bancar os luxos daquela folgada. Vejo o moleque a cada 15 dias. Pior: ela me ligou, queria botar o Juninho na escolinha pra poder trabalhar fora, vê se pode? Se vira, fia! Quer moleza, senta no pau dum véio! Perguntei se ela queria que eu pagasse a escola também, igual fez com o convênio. Não te contei? A bonita queria que eu dividisse o plano de saúde do moleque. Uma treta do caralho e a minha mãe, sempre a minha mãe, passou um pano. Tá bancando do bolso. Vem cá, e o que ela faz com os 400 pau por mês? Sempre a desculpa que não dá pra nada e não sei o quê. Vó, né? Volta e meia, pega o Juninho sem eu saber, porque já quero desconto na pensão. Que é isso? Não, não. É muita folga. O moleque só tá assim bonitão porque eu faço tudo por ele. Uma vez por semana ainda busco na escola. Quando dá. Mas a mãe dele é assim, eu dou a mão e já quer o braço. Outro dia, veio com uns papos de que tá tudo muito caro. E eu com isso? Tô até vendo, vai pedir pra aumentar a pensão. É mole? Volta e meia fica jogando charadinha, jogando minha mãe contra mim. E eu tô ligado, a pilantra faz minha caveira pro Juninho. Muito suja. Diz que sou ausente, não sou bom pai, essas merdas. Mulher é foda. Quando ele vem aqui, minha mãe cuida do moleque igual um príncipe. Até reclamo, vai mimar o Juninho. E a outra vem com essas, pai ausente? Não me fode. Acha que não tô ligado, tá até namorando, vê se pode? Tem é que dar atenção pro filho, não pra macho. Desculpa o desabafo. Me exalto quando falo do Juninho. Meu herdeiro, né? Quero o melhor pro moleque. Fala aí, minha cara, né? Lindão igual o pai.