Planilhas
Havia um incômodo me impedindo de dormir. Uma pendência tirava o sono. Precisava resolvê-la antes de fechar os olhos. Liguei o computador e abri uma planilha do Excel. Renomeei, abri três arquivos no Word, repassei a lista dos livros lidos desde 2016 e só então pude descansar tranquilamente. Ter um documento indicando cada livro lido…
Estudos sobre a maconha
Tenho medo de altura, grandes concentrações de água e pouca resistência a dores. Minha hipocondria traz questionamentos sobre os melhores remédios e chás caseiros. Insone, tomo dois comprimidos diários, capazes de derrubar um elefante. Até gosto de esportes, corro diariamente, mas prefiro assisti-los pela televisão. Nela, ouvi falar em Bob Burnquist pela primeira vez. Eu…
Jornalismo entre aspas
Meu diploma da faculdade de Jornalismo está pendurado em uma parede do quarto. Ao redor das letras enfeitadas, um quadro bonito dá pompa à conquista. Quando olho para o certificado, lembro a bolsa integral pelo ProUni, o dinheiro trocado para a condução e o lanche no intervalo, os estágios não (ou pouco) remunerados, os colegas…
Tempos de jacas maduras
Minha mãe é fissurada em jacas. Não é mera questão de gosto, mas de amor incondicional. Se você bater à porta para falar mal da fruta com corpo de porco-espinho, será persona non grata. Eu não suporto. As jacas, não minha mãe. O cheiro, a aparência, o grude nas mãos. O gosto é estranho, não…
Dor de dente
A agência dos Correios fica a cinco quadras de casa. Ando pelas quatro primeiras sem sair da minha rua. No centro da cidade, as pessoas andam desordenadas e consumistas, tropeçam umas nas outras sem pedir desculpas e fazem das calçadas espaços insuportáveis. Viro à esquerda e depois de atravessar no semáforo chego ao local de…
A gente não morre disso*
*por Diego Brígido Pé na bunda, ressaca e insônia. A gente não more disso. Desemprego, esporro e vergonha. A gente não morre por isso. Mentirosos, babacas e escrotos. A gente não morre deles. Às vezes a vida acorda estranha. E a gente não morre disso. A gente não morre da espera. De ciúme. De sono.…
Condenado à ironia perpétua
Um velho amigo ficou irritado. Conversávamos via WhatsApp sobre seu não-cumprimento de compromissos profissionais. Tive um evitável prejuízo e cuspia marimbondos pelos dedos, tocando a tela do celular com raiva, como se gritasse via impressões digitais. Meu velho amigo tentava, em vão, me tranquilizar. – Se você entender meu lado, vai perceber que o motivo…