Nossa vez

23 de maio de 2021 0 Por Leandro Marçal

Mãe. Lolô. Edu. Bob. Vini. Dani. A outra Dani. Camila. Xuxa. Douglas. Wilton. Mk. Jéssica. A outra Jéssica. Marcito. Topera. Wendel. Juliana. Lucas. Honda. Bárbara. Guilherme. O outro Guilherme. Aquele Guilherme. Ivan. Cecília. Paulo. Bruna. Adriano. Gustavo. Pamella. Casarin. Adê. Muka. Bruno. O outro Bruno. Marcelo. Fausto. Tio Sandro. Isa. Rafael. Artur. Haliston. Filipe. Rafael. Victor. Laís. Vini. Onairam. Pedro. Raul. Diego. Fran. Thiago. Aquele Leandro. E todos os outros. E todas as outras.

Chacotas, piadas, memes, indiretas e alfinetadas acabaram. Ou deram uma trégua. No trabalho, na família, no grupo de WhatsApp, na padaria, na vizinhança. Vão dizer que Paulista não vale nada, que o outro time não priorizou o estadual, que as finais não foram tudo isso, que o futebol é desimportante, que o português não estava inspirado, que fomos beneficiados pela esfericidade da bola e pela lei da gravidade e pelo signo de Touro com ascendente em Mercúrio retrógrado da puta que os pariu interferindo no vermelho, preto e branco. Deixem que digam.

Passamos 3.091 dias de seca com um grito entalado na garganta. Nove anos. Mal se usava o WhatsApp, a Copa do Mundo no Brasil era só expectativa e desconfiança, pandemia era coisa de filmes apocalípticos e não havia discussão sobre um golpechment. Gente louca era tratada como gente louca, o país ainda era um país, a esperança não morava no passado porque um futuro ainda existia. Os dias mais difíceis das nossas vidas eram só uma abstração, um pesadelo distante.

De lá para cá, perdemos e perdemos e perdemos. E perdemos. Gritei o gol do Aloísio Boi Bandido contra o Benfica muito mais do que hoje. 14 jogos sem ganhar, seis deles sem um único gol. Me formei, saí de um emprego, ganhei dinheiro, perdi dinheiro, perdi amigos, deprimi, tratei, desencanei, viajei, briguei, me reconciliei, a família aumentou. Vejo fotos e mal me reconheço nos tempos do último título. Penúltimo, agora.

Essa história de “time da fé” é só mais um clichê do futebol, mas virei devoto de San Crespo de Argentina. Nunca duvidei do Crespismo, a verdadeira frente ampla, o mais importante movimento democrático dos últimos anos. E o Daniel Alves? Por hoje, e só por hoje, está perdoado pelo mau gosto capilar e de vestimentas.  

Nove anos sem títulos. Dezesseis anos sem um Paulista. Uma vida inteira de jejum no mata-mata. Sair da fila não soluciona os problemas práticos, eu sei. É como tomar a primeira dose da vacina contra a covid-19: respiramos aliviados porque o pior já passou, mas ainda há um longo caminho a seguir e precisamos continuar tomando os devidos cuidados. Em breve, vamos comemorar juntos e juntas, num abraço forte e apertado, essa conquista ainda mais importante, para todas as cores e torcidas.

Fim da fila, chegou nossa vez.