Mais burro que o Bozo

19 de outubro de 2020 2 Por Leandro Marçal

A estupidez vive grande fase no Brasil. E em boa parte do mundo, eu sei. Sinto saudades de um tempo distante, quando a ignorância era escondida, velada, disfarçada. Hoje, a insensatez é desavergonhada. Nas redes sociais, então, há quem se orgulhe de expor a própria burrice e até receba curtidas, comentários, compartilhamentos.

E votos. De 2018 para cá, com as ratazanas saindo da toca, a satisfação por alçar ao poder um completo imbecil espantou quem ainda preza pelo bom senso.

O Boçal-Mor da República deveria ser só mais um estúpido, incapaz de ser eleito síndico. Um cara burro, muito burro, para desespero dos seres pensantes. Tão burro que penso todos os dias numa nova escala para medir a burrice.

Se alguém for mais burro que o Bozo, o caso é grave. Gravíssimo. A última escala da burrice, com poucas chances de salvação. Crianças ou analfabetos não se enquadram aqui. Eles ainda podem aprender e evoluir. Receber o diagnóstico de mais burro que o Bozo é receber a notícia da morte cerebral. Sim, nesses casos, ele já não funciona, mesmo.

Ser menos burro que o Bozo não quer dizer muita coisa. Nem é uma missão tão difícil assim. Minha cachorra, a Gabriela, se encaixa nesta categoria. A coitada está cega, velha, meio frágil e doentinha. Mas não lambe botas de militares e americanos. Gabriela só late por instinto. Não zomba da morte alheia, nem tem responsabilidade direta nas centenas de milhares de perdas na pandemia mais grave do século. Gabriela não é omissa, nem cretina. Quando arfa mostrando a língua, demonstra sede. Pede água mesmo, nada de cargos, dinheiro público e outras rachadinhas.

Gabriela é menos burra que o Bozo. Plantas são menos burras que o Bozo. Crianças em alfabetização são menos burras que o Bozo. Já o meu tio, que apoia o Rei da Jumentolândia e envia fake news todos os dias no grupo da família no WhatsApp, não. Ele é mais burro que o Bozo.

Minha ex-namorada sai às ruas sem máscara porque não acredita na pandemia. Ela é mais burra que o Bozo. Meu primo do interior, formado numa universidade pública, é fã incondicional do Sinistro da Economia em Frangalhos. Primo, você é bem mais burro que o Bozo. Outro primo é saudosista da ditadura, odeia homossexuais e prestaria continência se o Capetão passasse à sua frente, numa compulsão quase (quase?) sexual. Primão, você é bem, bem, bem mais burro que o Bozo. Até te parabenizo por essa proeza, não é para qualquer um.

Nos últimos dois anos, quando conheço gente nova, fico receoso de estar muito perto de um membro do público cativo do Asno com Faixa Presidencial.

Outro dia, comentava sobre essa escala da burrice numa reunião por videoconferência. Como num jogo de cartas, puxaram dois coringas: “e o Barba?”, “e os Vermelhos?”. Citei os tantos títulos de doutor honoris causa, o “esse é o cara” do Obama, a popularidade recorde e a primeira carta foi abaixada. Para a segunda, foi até simples: os Vermelhos fizeram muita merda e também acertaram bastante. Como nunca atentaram contra a Dona Democracia e têm alguma civilidade política, é óbvio: nem os Vermelhos, nem o Barba são mais burros que o Bozo.

Tem coisa pior que sermos governados por um Napoleão de Hospício com cérebro menor que uma ervilha? Tem. Saber que muitos de nós, funcionários do manicômio, lhe deram as chaves do estabelecimento, é bem pior. Uns seguem rindo e apoiando suas insanidades, outros até desejam ver a instituição completamente derrubada. São mais burros que o Bozo, claro.

Resta seguir disseminando o conhecimento, tão desvalorizado na Bozolândia. Mas eu não desisto. Espero não ser processado pela comparação tão desagradável. Pelos animaizinhos, é claro. Os coitados não mereciam ser rebaixados a um nível tão baixo.