Lockdown de Taubaté

28 de março de 2021 4 Por Leandro Marçal

Acho o caso da grávida de Taubaté fascinante. Em 2012, essa mulher passeou por programas vespertinos, falando sobre sua incrível gestação de quadrigêmeas. Tremenda história! Fez Edu Guedes chorar e comoveu telespectadores. Pena que era mentira.

De lá para cá, a cidade localizada a 130 quilômetros de São Paulo e com quase 320 mil habitantes virou expressão para mentirinhas e mentironas. Se é de Taubaté, é meio fake, meio cascata. Do tipo impossível de aceitar como verdade, mas que deixamos passar para não perder tempo.

Quando duas pessoas discutem, uma dizendo que chove lá fora e a outra negando, sou o chato que abre a janela para conferir o tempo. Por isso, o caso é particularmente marcante para mim. Eu sabia, era óbvio, aquela mulher não estava grávida, faltava só um desavisado pedir para dar uma olhada na barriga ou no ultrassom, sei lá.

Há alguns anos, desperdicei a oportunidade de visitar Taubaté. Um velho amigo convidou a galera para visitar seus parentes, mas trabalhei no fim de semana. Acontece. Taubaté, para mim, ficou só na expressão galhofeira.

Tenho um visual capilar de Taubaté e vivo num país com uma democracia de Taubaté. O presidente de Taubaté foi eleito depois de apresentar um plano de governo de Taubaté, e em dois anos desastrosos não caiu porque a Câmara de Taubaté não pautou o impeachment, para delírio do Centrão de Taubaté.

As nove cidades da região onde moro decretaram lockdown. Começou na terça-feira passada e deve ir até o domingo que vem. Dizem. Não tenho mais certezas nesses tempos de incertezas.

Um lockdown de Taubaté. As taxas de isolamento social se esforçam para chegar a frágeis 50%. A ocupação dos leitos de UTI e enfermaria passaram dos 100% em quase todos os hospitais. Comerciantes se preocupam com a sobrevivência de seus negócios – com razão–, alegando seguirem todos os protocolos de segurança. Invariavelmente, elaborados por profissionais taubateanos, suponho.

Passeio pelas redes sociais e vejo tanta gente conhecida passeando, se divertindo, andando para lá e para cá sem máscara, nas festas clandestinas e pagodes descolados como se não houvesse amanhã. Para muita gente, não haverá. A polícia de Taubaté e a Guarda Civil Metropolitana de Taubaté são as responsáveis pela fiscalização de Taubaté, seguindo as normas adotadas pelas prefeituras de Taubaté. Todas elaboradas em uma reunião sediada você sabe onde.

Assim caminha a humanidade. A realidade, seguida em tempo real por tantos meios de comunicação, tenta me massacrar, mas eu resisto o quanto posso. Quando esse lockdown chegar ao fim, se é que começou, vou seguir trabalhando de casa – um privilégio – e saindo apenas para necessidades urgentes. O vírus não simula quadrigêmeas e parece não comover um bocado de gente. Seres humanos de Taubaté.