Esta crônica não rende uma dancinha no TikTok

17 de janeiro de 2022 0 Por Leandro Marçal

Escrevo muito porque vou viver pouco. Não digo “muito” no sentido de qualidade, mas pela frequência considerável de vezes juntando palavras, criando frases, formulando ideias malucas. E não estou doente, nem acredito em premonições ou intuição. É só uma certeza idiota, sem embasamento, tipicamente humana.

Não são raros os conselhos bem intencionados de leitores e leitoras me contatando pelas incansáveis redes sociais. “Cara, você deveria publicar os seus textos num jornal ou num site de grande repercussão”, dizem com empolgação e leve grau de insanidade.

Gente querida também dá seus pitacos entre uma cerveja e outra. “Se eu fosse você, investia em redes sociais. Um trabalho de marketing pra trabalhar a imagem. Ou então, via os assuntos mais procurados pro teu blog ser o primeiro nas pesquisas do Google. Muitos cliques, depois jogava uma publicidade, saca?”, tentam me convencer com ar meio pastor, meio coach.

Nos dias de menos inspiração, paro e penso. E se eu deixasse a literatura de lado, só um pouco, e me dedicasse à escrita de pseudocrônicas? Frases curtas, clichês de leitura rápida e forte impacto, para viralizar com fotos reflexivas por mais likes e repercussão. Quem sabe não criassem o perfil “Frases Leandro Marçal”, com supostos pensamentos meus, cheios de respostas prontas para os problemas cheios da complexidade humana. Ninguém liga para complexidades mesmo, importante é o engajamento.

Outra opção seria o TikTok. As mesmas frases curtas e clichês e rápidas como conselhos para uma vida de felicidade plena. Jovens com pouca louça para lavar dançando e apontando para os lados, com meus escritos aparecendo e sumindo em poucos segundos. Também em poucos segundos, o vídeo visto por milhares, milhões de pessoas com olhos grudados na telinha. “Essa é a tendência, esse é o futuro, o digital”, me contam os gurus do mundo contemporâneo, estranhando minha indiferença aos vídeos com dublagens toscas.

Depois de pensar um pouco, a ideia morre antes de nascer. Não estou nem aí para a tendência, para o digital. E talvez por isso não esteja rico, apenas chato, cada vez mais chato, buscando a raridade da coerência. E continuo escrevendo muito – no sentido de grande quantidade – sem saber se vou viver pouco, mas vivendo um dia de cada vez.

Palavra a palavra, frase a frase, parágrafo a parágrafo, texto a texto. Sem jogo de cintura para dancinhas, sem a pressa das redes sociais, sem me preocupar com os likes e sem torcer o nariz para as novas mídias. Cada um nada na sua praia, mas algumas têm bandeira vermelha e eu prefiro não ser levado pela correnteza.

Esta crônica não rende uma dancinha no TikTok, não me rende dinheiro, não traz lições de moral pré-cozidas, não motiva ninguém a trabalhar enquanto eles dormem, nem serve para nada num sentido utilitarista. Prefiro assim.