Pra cima
— Daí é isso, vai ser amanhã às nove.
— Boa, irmão. Bora, pra cima!
— Pra cima de onde?
— Como assim?
— Contei da parada de amanhã, tu falou pra cima, do nada. Pra cima de quem, mano? O que rolou?
— Hahaha. Pô, irmão, tô falando de ir pra cima, bora lá.
— Eu entendi… mas não entendi. Como assim, pra cima? Vai ser no térreo.
— No térreo?
— A parada de amanhã.
— Irmão, é pra cima. Vâmo pra cima deles, tá ligado?
— Mas não pega mal?
— Pegar mal?
— É. Ir pra cima, parece agressivo. Não pega mal?
— Tá de sacanagem comigo, irmão?
— Não, mano. É que sei lá, pra cima. Parece coisa de boxeador debulhando o outro na porrada. Não é esse o perfil que eles querem.
— Irmão, tu é muito louco. Beleza, nada de pra cima. Mas bora lá, né?
— Pra onde? Não curtiu aqui?
— Porra, irmão. É bora lá de bora lá. De ir pra cima, irmão.
— …
— De incentivo.
— Tipo tapinha nas costas?
— Tipo tapinha nas costas.
— Mas não faz sentido nenhum.
— Como não?
— Pensa só: pra cima. Não vou pra cima, nem pra baixo, nem pros lados. Eu vou lá amanhã. Só. E bora lá: eu quero continuar aqui, não quero ir bora pra lugar nenhum se eu tô curtindo onde tô, tá ligado?
— Tu chapa, irmão.
— Eu chapo? Do nada tu mete um pra cima não sei de quem, um bora lá não sei pra onde, me chama de irmão e não é filho do meu pai nem da minha mãe. E até onde eu te conheço, nem crente tu não é.
— Puta que pariu, irmão.
— Olha aí, tá vendo?
— Vâmo pedir mais uma… meu parceiro, tá bom assim?
— Só não precisa se irritar.
— Não tô irritado, tu que chapa. Falando uma groselha atrás da outra aí.
— Tá bom. Eu, né? Beleza. Vâmo pedir mais uma sim.
— Bora lá, então.
Oi, Lê!
Adoro como a nossa língua é polissêmica! 🙂
Sua crônica me fez pensar que leria um livro inteiro assim 🙂
Um beijo
Com certeza ! Pra cima deles! Bora lá ! Tamu junto!! Segue o fluxo! 🤭🤭🤭🤭