Pra cima

7 de fevereiro de 2022 2 Por Leandro Marçal

— Daí é isso, vai ser amanhã às nove.

— Boa, irmão. Bora, pra cima!

— Pra cima de onde?

— Como assim?

— Contei da parada de amanhã, tu falou pra cima, do nada. Pra cima de quem, mano? O que rolou?

— Hahaha. Pô, irmão, tô falando de ir pra cima, bora lá.

— Eu entendi… mas não entendi. Como assim, pra cima? Vai ser no térreo.

— No térreo?

— A parada de amanhã.

— Irmão, é pra cima. Vâmo pra cima deles, tá ligado?

— Mas não pega mal?

— Pegar mal?

— É. Ir pra cima, parece agressivo. Não pega mal?

— Tá de sacanagem comigo, irmão?

— Não, mano. É que sei lá, pra cima. Parece coisa de boxeador debulhando o outro na porrada. Não é esse o perfil que eles querem.

— Irmão, tu é muito louco. Beleza, nada de pra cima. Mas bora lá, né?

— Pra onde? Não curtiu aqui?

— Porra, irmão. É bora lá de bora lá. De ir pra cima, irmão.

— …

— De incentivo.

— Tipo tapinha nas costas?

— Tipo tapinha nas costas.

— Mas não faz sentido nenhum.

— Como não?

— Pensa só: pra cima. Não vou pra cima, nem pra baixo, nem pros lados. Eu vou lá amanhã. Só. E bora lá: eu quero continuar aqui, não quero ir bora pra lugar nenhum se eu tô curtindo onde tô, tá ligado?

— Tu chapa, irmão.

— Eu chapo? Do nada tu mete um pra cima não sei de quem, um bora lá não sei pra onde, me chama de irmão e não é filho do meu pai nem da minha mãe. E até onde eu te conheço, nem crente tu não é.

— Puta que pariu, irmão.

— Olha aí, tá vendo?

— Vâmo pedir mais uma… meu parceiro, tá bom assim?

— Só não precisa se irritar.

— Não tô irritado, tu que chapa. Falando uma groselha atrás da outra aí.

— Tá bom. Eu, né? Beleza. Vâmo pedir mais uma sim.

— Bora lá, então.