Planilhas

18 de fevereiro de 2019 0 Por Leandro Marçal

Havia um incômodo me impedindo de dormir. Uma pendência tirava o sono. Precisava resolvê-la antes de fechar os olhos. Liguei o computador e abri uma planilha do Excel. Renomeei, abri três arquivos no Word, repassei a lista dos livros lidos desde 2016 e só então pude descansar tranquilamente.

Ter um documento indicando cada livro lido não é a coisa mais normal do mundo. Tampouco incluir as próximas cinco ou dez leituras. Sanidade mental não é meu forte.

Sou compulsivo por listas e não tenho vergonha disso. Depois de tanto tempo trabalhando em escritórios, virei um maníaco por planilhas. Fiz uma prova no mês passado e gabaritei as questões referentes a células, linhas, colunas e o ícone verde brilhando na área de trabalho. As únicas fórmulas decoradas em quase trinta anos são as que ajudam a realizar tarefas diárias na tela do computador.

Acabei trazendo isso para casa. Há as planilhas de despesas mensais, contas pendentes e devedores eternos. Quando envio currículos, alimento o arquivo com a lista de empresas para não repetir. Estão separadas por abas, conforme a área de atuação.

Por precaução, criei uma planilha intitulada “Dados”. Incluí os documentos, cartões de crédito e outras informações familiares que poderiam se perder em momentos de emergência. Vi a insanidade chegando ao anotar os tempos das corridas diárias, os dias e valores gastos nas compras e até os nomes dos bares dos fins de semana.

Talvez haja um desejo de controle generalizado. Saber o que foi feito há nove meses seria possível ao abrir a planilha com aquela data e verificar os passos dados.

Ou, quem sabe, mero vício corporativo, a ilusão de nada funcionar sem elas. É como se eu trouxesse trabalho para casa. Na falta de relatórios e gráficos mensais caseiros, crio arquivos para banalidades. Tudo bem, elas são a coisa mais importante da vida.

Não faz muito tempo, excluí as planilhas de filmes assistidos, séries pendentes, lugares para conhecer, destinos visitados, possíveis nomes para uma paternidade não-concretizada e itens emprestados. É bom manter um controle disso, mas pequei pelo exagero.

Não é saudável manter listas irrelevantes em arquivos do Excel. Prometi parar com esse hábito por mais de uma vez. Para ser mais preciso, 13 vezes. Acabei de conferir na planilha de promessas feitas, na aba das não-cumpridas.