O mistério do sertanejo universitário

10 de abril de 2020 0 Por Leandro Marçal

– Como assim, não é uma dupla?

– Não, não é. É uma pessoa só.

– Mas isso é nome de dupla.

– Na verdade, é um nome composto.

– Com cara de nome de dupla.

– É, isso não dá pra negar.

– Eu tenho uma teoria.

– Sobre?

– Eu chamo de mistério do sertanejo universitário.

– Mistério?

– É. Já reparou que os nomes são parecidos, o jeito de vestir é parecido e até as vozes são parecidas?

– É o estilo deles, pô.

– Eu sei, eu sei. Mas é tudo muito igual, eu não sei a diferença.

– É que você não acompanha.

– Você que pensa. Sou muito atento. Se colocar só o áudio, é impossível saber quem é quem. Aí tem uns nomes com letras repetidas, todo mundo muito igual.

– Tá, mas e aí? Qual a teoria?

– Cê não vai acreditar.

– Fala logo, porra!

– Não existe muita gente nesse sertanejo universitário.

– Como não? Olha quanta gente, cada hora aparece um novo, gente pra caramba.

– Aí é que você se engana. No máximo, no máximo, tem dois homens e duas mulheres. Já reparou a turma nunca aparece juntas? Não é coincidência. Eles usam maquiagens e perucas pra mudar um pouco o estilo. Mas são exatamente as mesmas pessoas. E aí fica tipo o Eddie Murphy interpretando a família inteira, sabe? Igual o seu Barriga que é o Nhonho, o Chaves que é o Chapolin. Poucas pessoas ganhando muito dinheiro interpretando um montão de duplas sertanejas. Nem pode rolar uma reunião tipo a dos sertanejos velhos porque acabaria a farsa. É por isso que aquele outro tem um casão, ele é vários. E nem dá pra saber a diferença de um pro outro porque são o mesmo. O público parece hipnotizado. Uma enganação de anos e anos. Isso tinha que acabar!

– Nem sei o que dizer.

– Não acredita?

– Claro que não!

– Sabe de nada, inocente.

– Eu? Por que não acredito em teorias da conspiração ridículas? Do sertanejo universitário? Vai dormir, vai. Tudo isso porque não gosta e prefere esse monte de rock doido aí…

– A verdade é amarga, meu caro.

– Amarga tá a cerveja. Esquentou até, de tanta merda que cê falou.

– Mais uma?

– Mais uma!

– Garçom, mais uma!