O mistério do sertanejo universitário
– Como assim, não é uma dupla?
– Não, não é. É uma pessoa só.
– Mas isso é nome de dupla.
– Na verdade, é um nome composto.
– Com cara de nome de dupla.
– É, isso não dá pra negar.
– Eu tenho uma teoria.
– Sobre?
– Eu chamo de mistério do sertanejo universitário.
– Mistério?
– É. Já reparou que os nomes são parecidos, o jeito de vestir é parecido e até as vozes são parecidas?
– É o estilo deles, pô.
– Eu sei, eu sei. Mas é tudo muito igual, eu não sei a diferença.
– É que você não acompanha.
– Você que pensa. Sou muito atento. Se colocar só o áudio, é impossível saber quem é quem. Aí tem uns nomes com letras repetidas, todo mundo muito igual.
– Tá, mas e aí? Qual a teoria?
– Cê não vai acreditar.
– Fala logo, porra!
– Não existe muita gente nesse sertanejo universitário.
– Como não? Olha quanta gente, cada hora aparece um novo, gente pra caramba.
– Aí é que você se engana. No máximo, no máximo, tem dois homens e duas mulheres. Já reparou a turma nunca aparece juntas? Não é coincidência. Eles usam maquiagens e perucas pra mudar um pouco o estilo. Mas são exatamente as mesmas pessoas. E aí fica tipo o Eddie Murphy interpretando a família inteira, sabe? Igual o seu Barriga que é o Nhonho, o Chaves que é o Chapolin. Poucas pessoas ganhando muito dinheiro interpretando um montão de duplas sertanejas. Nem pode rolar uma reunião tipo a dos sertanejos velhos porque acabaria a farsa. É por isso que aquele outro tem um casão, ele é vários. E nem dá pra saber a diferença de um pro outro porque são o mesmo. O público parece hipnotizado. Uma enganação de anos e anos. Isso tinha que acabar!
– Nem sei o que dizer.
– Não acredita?
– Claro que não!
– Sabe de nada, inocente.
– Eu? Por que não acredito em teorias da conspiração ridículas? Do sertanejo universitário? Vai dormir, vai. Tudo isso porque não gosta e prefere esse monte de rock doido aí…
– A verdade é amarga, meu caro.
– Amarga tá a cerveja. Esquentou até, de tanta merda que cê falou.
– Mais uma?
– Mais uma!
– Garçom, mais uma!