Natação às sete

8 de janeiro de 2024 0 Por Leandro Marçal

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Quase dez anos depois de uma delicada cirurgia na coluna, voltei à natação. É a atividade física mais completa que existe, dizem. Correr nas ruas é ótimo, mas já não me parecia o suficiente para a boa saúde. Como não suporto musculação naquele ambiente de “eu sou mais forte que você”, escolhi as piscinas. Não foi por meta besta de começo de ano, nem é pelo projeto verão de sei lá quando. É por saúde e bem-estar, mesmo.

Duas vezes por semana. Logo às sete da manhã. Sete e vinte da manhã, para ser mais preciso. Acordo às seis por livre e espontânea vontade, tomo um café da manhã equilibrado – nem tão fraco para não passar mal embaixo d’água, nem tão forte para não me atrasar por excesso de tempo no banheiro – e ando pouco mais de um quilômetro até uma praça no centro da cidade. A dez passos da entrada principal, descubro pelo barulho da piscina se será um treino tranquilo e com bastante espaço, ou se vou dividir raia com um colega de horário, com cinco ou dez anos de natação como ritual sagrado.

Sempre tive medo de grandes concentrações de água. Medo ou respeito, não sei. Piscina muito funda nunca foi a minha praia. E o mar, eu respeito o mar. Também tenho medo, como bom hipocondríaco. Aprendi a nadar depois dos vinte anos, pouco antes da tal cirurgia nas costas. Mas até hoje, sinto um frio na barriga quando “não dá pé”.

Nas minhas primeiras braçadas nesse ambiente controlado, me sentia uma criança indefesa. Tinha vergonha de aprender a respirar e a me movimentar embaixo d’água depois de certa idade, enquanto via pequenos e pequenas se locomovendo feito peixes. Claro que essas primeiras braçadas só aconteceram depois de aprender a bater perna, depois de aprender como respirar (é…), depois de entender como girar a cabeça e o braço e o corpo. Um processo, como dizem.

Nesse retorno, fui confiante. “A corrida vai me ajudar pra caramba, principalmente no controle da respiração e na consciência corporal”, pensei. Evidentemente, pensei errado, como em todos os momentos de confiança. Nas primeiras aulas, a afobação e a ansiedade me levaram à exaustão e às dores musculares no dia seguinte. Dor de exercício, uma dor positiva, se é que existe alguma dor positiva.

Com o passar das semanas, lembrei como o medo de deixar o corpo leve e solto na água me trava, me impede de respirar bem, reduz o meu rendimento. Para um bom desempenho, tem que se deixar levar, sem a obsessão pelo controle, se atentando apenas aos movimentos, sem pensar em mais nada. O corpo precisa se entregar sem tensão. Também vale para outros ambientes.

Ao fim dos treinos, me sinto quebrado. Demoro vinte minutos para chegar em casa, num percurso normalmente percorrido em metade do tempo. Paradoxalmente, estou renovado. Respiro melhor e meu corpo agradece. Minha saúde também. E o dia começa promissor, com mais vida, mais cores, menos horror.