Meu time de botão

29 de outubro de 2023 1 Por Leandro Marçal

Futebol é o meu lazer levado a sério. Acompanho as notícias e vejo os jogos, mas não me irrito com as derrotas. Perder ensina, faz parte da vida. Parte considerável dos meus papos furados tem campo e bola na pauta. Canto escalações históricas e títulos antigos. Até o meu vocabulário é influenciado. Não que a minha forma de torcer seja racional e insípida (longe disso!), mas esse e outros esportes formaram a minha personalidade, a bagagem cultural, a visão de mundo e o meu jeito de encarar os dias.

Dias ansiosos. Assim foram os últimos dias. Como a recaída na dependência química. Nesses momentos de crise, esqueço a certeza de que vai passar. Tento lembrar e dar mais atenção ao que me faz bem, porque pode me deixar melhor, porque acredito na redução de danos.

O meu bote salva-vidas foi o podcast Meu Time de Botão. A dinâmica é simples: os apresentadores Leandro Iamin e Paulo Junior pingam um novo episódio a cada 15 dias, com histórias, conversas e lembranças dos grandes momentos do futebol e de seus personagens no Brasil e no mundo. Desde o começo do ano, sou apoiador do projeto, colaborando financeiramente como posso para ajudar a viabilizar um trabalho tão humano. Nesses dias ansiosos, favoritei dezenas de episódios antigos, como se recuperasse o tempo perdido, antes de conhecer essa pérola do radinho on-line.

Me reconectei com aquele moleque péssimo de bola. Que quase nunca jogava. Que ia até as bancas de jornal comprar os guias dos campeonatos e álbuns de figurinhas. Que achava o máximo esse talento de cantar escalações do passado, num tempo sem o Google à mão para checar se estava certo ou era pura cascata. Que conheceu o futebol de botão antes do videogame.

Sou ouvinte de podcasts desde 2018. Para quem trabalha de casa, são excelentes companhias. Para quem cresceu escutando rádio, não tem novidade. Dá para se sentir próximo dos apresentadores, dá para ser amigo de quem nem me conhece. E para quem não é adepto dos podcasts, vale lembrar que os bons, e os excelentes, vão muito além da surrada fórmula “dois entrevistadores limitados numa mesa entrevistando figuras públicas, se fingindo de desentendidos e forçando risadas para render cortes”. A grande repercussão nas redes depois de uma demissão, uma censura e um possível fim no podcast de política que eu mais gostava mostra isso bem.

Nesses dias ansiosos, tão difíceis de explicar, parece que o tempo não passa, parece que a Terra gira duas vezes mais rápido e eu não consigo sair do lugar. Não consigo fazer nada, mal consigo respirar com calma. Ouvindo os episódios favoritados do Meu Time de Botão, viajo ao passado sem sair do lugar. O tempo para, encurta e estica, minuto a minuto, história a história, escalação a escalação. Difícil de explicar, mas fácil de dar play e maratonar muitos episódios.