Meu perfil, minhas regras

18 de novembro de 2024 0 Por Leandro Marçal

Perguntaram se não tenho medo de me prejudicar na vida profissional, caso seja lido por colegas de trabalho e chefias cheias de melindre. Sinceramente, desconfio até que isso já aconteceu, é a vida. Mas se me autocensuro, não faz sentido seguir escrevendo. Claro, procuro combinar bom senso e responsabilidade jurídica.

Pessoas próximas já se sentiram ofendidas por uma crônica aqui e outra ali. O velho papo da carapuça servindo. Faz parte. Teve quem cortou relações comigo, achando que escrevi para atacar. Paciência.

Separo bem os textos: uns para pagar as contas, outros autorais. Já ironizei piadas de chefe e fiz chacota de um antigo patrão. Pelo menos até hoje, CNPJ algum veio reclamar das minhas crônicas e livros. Nunca me pediram para apagar este ou aquele texto, nem mandaram escrever sobre isto ou aquilo. Nesses casos, meu prazo de validade na firma venceria imediatamente. Qualquer rascunho de interferência do tipo está fora de cogitação.

Já vi casos até piores. Outro dia, li uma reportagem sobre empresas obrigando funcionários a divulgarem seus produtos ou serviços em perfis pessoais no LinkedIn. Tive chefias pedindo para a equipe “dar uma força”, curtindo tal post, seguindo tal página, compartilhando tal propaganda. Pedindo, não obrigando.

Me conhecendo bem, acho que colocaria o emprego em risco se tentassem me forçar a postar algo contra a minha vontade. Meu perfil, minhas regras. Sou pago para desempenhar funções relacionadas a textos. Ponto. Mas as minhas redes não estão à venda, lamento.

Falo por mim, apenas por mim. Nada contra quem acha isso normal. Para trabalhar com vendas e metas, não deve ser prudente dispensar a divulgação pelas redes. Gente que paga as contas com a própria imagem nem cogita sumir um só dia dos stories. Profissionais que amam seu local de trabalho (cuidado!) devem me achar lunático. E, convenhamos, o mercado é essa dança das cadeiras sem fim. Nem todo mundo pode se dar ao luxo de ser dono do próprio perfil. Entre se deixar invadir pela inconveniência da chefia nas redes e não ter salário no mês seguinte, nem precisa perguntar qual a melhor opção.

Raras vezes, senti insinuações esquisitas no ar. De gente que não lê um livro desde os tempos da escola e me olha como um bobo se comentam sobre minhas publicações. Mesmo assim, essa gente fina e elegante e sincera não se avexa em ensaiar a brilhante ideia de ter suas bugigangas poluindo meu perfil literário. Devem imaginar um suposto glamour do escritor para tentar lucrar às minhas custas.

No fim das contas, aquele papo de “seja você mesmo” nas entrevistas de emprego e no dia a dia do mercado de trabalho é pura balela. Basta um pouquinho a mais de senso crítico transparecendo e os riscos aumentam. Desconfio até que posso me prejudicar, caso meus superiores hierárquicos na firma leiam esta crônica. Se isso acontecer, faço uma postagem desaforada no meu perfil. Do meu jeito e na hora que eu quiser.