Más influências
Cuidado com as más influências. Conselho de mãe. Tão ouvido na época da escola, tão repetido ao longo da adolescência. Existem companhias tão sedutoras quanto perigosas, existem amizades pouco amistosas e muito oportunistas. Para não se deixar enganar, só com bom senso e cautela, características pouco comuns na juventude.
Pensei na lição materna outro dia, lendo as notícias. Segundo pesquisa divulgada pela Nielsen, o Brasil é o líder mundial em número de influenciadores digitais no Instagram. Na rede social das fotos, vídeos e falsa felicidade, temos mais de 10,5 milhões de digital influencers com cerca de mil seguidores. Por volta de 500 mil perfis contam com mais de 10 mil seguidores. Um orgulho nacional.
Como faço parte daquela gente estranha, que pesquisa e lê para tentar entender o mundo, caí numa definição da PUC-RS: “influência digital é a capacidade de uma pessoa usar canais online para transformar opiniões e comportamentos, além de induzir outras pessoas a determinadas ações, como compras e hábitos de consumo”. Favor não confundir com o produtor de conteúdo, que “cria e distribui conteúdo original, muitas vezes usando a própria imagem para conquistar o público”. Entendeu? Nem eu.
Sigo a filosofia do saudoso Ricardo Boechat e não dou palanque para otário. Talvez por isso, não me sinto influenciado por influenciadores. Pouco acompanho o trabalho (ou “trabalho”) de influenciadores. Não sou de dar palanque para influenciadores. Volta e meia, me pergunto por que tanta importância essa gente tem. Volta e meia, me questiono o motivo de tantas não-notícias envolvendo influenciadores figurarem entre as mais lidas de sites supostamente jornalísticos.
Eu sei, olhar pelo buraco da fechadura é um vício, também no mundo digital. Gastar horas vendo a vida alheia passar pela janela pode ser sedutor. Ajuda a esquecer a maré baixa do cotidiano, dá uma força para ocupar os minutos vazios. A vida não precisa ser emocionante o tempo todo e encarar o ridículo dos outros reduz o tempo de olharmos para o nosso próprio ridículo.
Tem a ânsia pela fama. Tem a necessidade de estar por dentro dos não-assuntos do momento. Tem a esquisitice generalizada das redes sociais. Se me perguntam por que os influenciadores digitais fazem tanto sucesso e ganham tanto dinheiro com tanto vazio, dispenso explicações antropológicas, sociológicas, filosóficas ou religiosas. Respondo que não sei, balanço a cabeça indicando que não faço a menor ideia. Não quero entender, nem cogito seguir essa gente exótica.
Cuidado com as más influências. Talvez os conselhos de mãe devam ser ouvidos com mais atenção.