Marina mandou lembranças
Quando lancei meu primeiro livro, cacei o e-mail da escritora Marina Colasanti para presenteá-la com um exemplar. Não sei há quanto tempo as quintas-feiras chegam por aqui com uma obrigação autoimposta de ler suas crônicas semanais, infinitamente mais saborosas do que as minhas também semanais mal traçadas linhas de segunda (com trocadilho). Uma obrigação autoimposta com muito prazer, vale a pena ressaltar.
Se você tem dúvidas, talvez já tenha se deparado com um vídeo do falecido Antônio Abujamra interpretando “Eu sei, mas não devia”, talvez o texto curto mais famoso de Marina, publicado no Jornal do Brasil no distante ano de 1972. Lindo demais, né? E o poder da escrita de Marina é ainda maior, rendendo-lhe o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra de tantas décadas.
Naquele estranho ano de 2018, tomei um susto ao ver sua resposta na caixa de entrada. Só de pensar que uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira dedicou parte do tempo para enviar a um iniciante, a tantos quilômetros de distância e sem nenhuma referência, um singelo e bonito incentivo a continuar, senti a temperatura caindo em poucos segundos, mesmo que o termômetro marcasse seus mais de vinte e cinco graus.
“Se você ou alguém da sua equipe puder me passar o endereço, eu envio o exemplar já na próxima semana”, era um trecho do meu primeiro contato. “Não tenho equipe, sou só eu mesma”, ela respondeu à minha pergunta como se me piscasse o olho, poucas linhas antes de encaminhar o local de entrega.
Me senti próximo à Marina e essa sensação aumentou na semana passada. A postagem de sua filha Alessandra Colasanti sobre o aniversário de 86 anos ficou linda. Uma celebração à vida, mesmo com os problemas, percalços e finitudes. A sensação de proximidade com uma mulher que nunca vi pessoalmente, nem conversei por aplicativos de mensagens ou reuniões virtuais. A sensação de proximidade com uma mulher de outra geração. A sensação de proximidade, menos pelo ofício e mais pela conexão da leitura.
Marina manda lembranças é a frase-título do site da escritora. A postagem de aniversário foi como uma saudação. Um aceno. Talvez uma piscada de olho como naquele e-mail. Marina me mandou a lembrança de que a vida precisa ser celebrada em todas as idades. Nos dias bons e também nos dias ruins. Se depender de mim, Marina nunca será esquecida.
Lembremos da Moça Tecelã e não permitamos que nossos imortais sejam esquecidos. Ela e o Affonso são sensacionais. Bom, a nossa Literatura é maravilhosa, vamos combinar.
Também sou fã da Marina. Há muitos anos.
Madô Martins
mado.escritora@gmail.com