Falsos velhos

31 de julho de 2023 1 Por Leandro Marçal

De tempos em tempos, perfis nas redes sociais desafiam o bom senso e criam postagens supostamente bem-humoradas sobre os sintomas da “velhice” ao redor dos 30 anos; compartilham perrengues de ser adulto, desconhecidos por quem não sabia como funciona o mundo lá fora; pensam inventar a roda ao descobrir que a ressaca na região dos vinte e muitos e dos trinta e poucos é mais sofrida que o pós-bebedeira dos vinte e poucos. Nessas horas, me elogio por não ter dormido nas aulas de biologia.

Existem comportamentos curiosos, digamos assim, no mundo virtual. Na hora do almoço, pessoas que se pensam preocupadas com questões sociais mostram indignação contra o etarismo (quando ele viraliza, é claro!). Chega o horário da janta e essa mesma gente trata a velhice como defeito, lugar indesejável e repulsivo, quase uma falta de caráter, digna de piadas de gosto duvidoso por mais engajamento.

São apenas duas opções possíveis: envelhecer ou ir para o buraco antes da hora prevista. E nem adianta se iludir, essa escolha não é nossa (e eu sei que existem as exceções confirmando a regra). Particularmente, prefiro ficar velho, mas como bom alérgico à falta de senso do ridículo, não arrisco me incluir nesse grupo sem nem ter saído dos trinta e pouquinhos.

Eu poderia teorizar os possíveis motivos dessa gente se dizer velha sem ser velha: uma herança do consumismo nosso de cada dia, reproduzindo na internet a cultura do descarte imediato e da obsolescência programada; um casamento do item anterior com o individualismo excessivo, amplificado no mundo das curtidas e compartilhamentos; todas as alternativas, combinadas com uma vida sem apertos na juventude e o desespero com o fim do iogurte na geladeira, quando pago com o suor do próprio trabalho.

Como não sou teórico de nada, aponto na ausência de ter o que fazer e na carência de atenção internética as principais razões para esses sintomas da epidemia da falta de noção. Torço para a ciência encontrar uma vacina eficaz contra esse mal pandêmico.

Vejo muita beleza quando alguém passa dos 80 com lucidez e qualidade de vida. Gosto de ouvir quem têm boas histórias para contar, não importa a idade. Canalhas também envelhecem. Jovens também podem ser abobalhados, idiotas e conservadores, com o perdão da redundância.

Quando cruzo com essas postagens supostamente engraçadas sobre “idosos” de trinta e poucos, sinto preguiça, muita preguiça. Para não dar palanque a otários e evitar censuras do meu departamento jurídico, não faço comentários. Dá vontade de me desconectar completamente, mas prefiro fazer essa gente esquisita sumir da minha tela. Deve ser um sinal dos tempos.