Esta crônica não rende uma dancinha no TikTok
Escrevo muito porque vou viver pouco. Não digo “muito” no sentido de qualidade, mas pela frequência considerável de vezes juntando palavras, criando frases, formulando ideias malucas. E não estou doente, nem acredito em premonições ou intuição. É só uma certeza idiota, sem embasamento, tipicamente humana.
Não são raros os conselhos bem intencionados de leitores e leitoras me contatando pelas incansáveis redes sociais. “Cara, você deveria publicar os seus textos num jornal ou num site de grande repercussão”, dizem com empolgação e leve grau de insanidade.
Gente querida também dá seus pitacos entre uma cerveja e outra. “Se eu fosse você, investia em redes sociais. Um trabalho de marketing pra trabalhar a imagem. Ou então, via os assuntos mais procurados pro teu blog ser o primeiro nas pesquisas do Google. Muitos cliques, depois jogava uma publicidade, saca?”, tentam me convencer com ar meio pastor, meio coach.
Nos dias de menos inspiração, paro e penso. E se eu deixasse a literatura de lado, só um pouco, e me dedicasse à escrita de pseudocrônicas? Frases curtas, clichês de leitura rápida e forte impacto, para viralizar com fotos reflexivas por mais likes e repercussão. Quem sabe não criassem o perfil “Frases Leandro Marçal”, com supostos pensamentos meus, cheios de respostas prontas para os problemas cheios da complexidade humana. Ninguém liga para complexidades mesmo, importante é o engajamento.
Outra opção seria o TikTok. As mesmas frases curtas e clichês e rápidas como conselhos para uma vida de felicidade plena. Jovens com pouca louça para lavar dançando e apontando para os lados, com meus escritos aparecendo e sumindo em poucos segundos. Também em poucos segundos, o vídeo visto por milhares, milhões de pessoas com olhos grudados na telinha. “Essa é a tendência, esse é o futuro, o digital”, me contam os gurus do mundo contemporâneo, estranhando minha indiferença aos vídeos com dublagens toscas.
Depois de pensar um pouco, a ideia morre antes de nascer. Não estou nem aí para a tendência, para o digital. E talvez por isso não esteja rico, apenas chato, cada vez mais chato, buscando a raridade da coerência. E continuo escrevendo muito – no sentido de grande quantidade – sem saber se vou viver pouco, mas vivendo um dia de cada vez.
Palavra a palavra, frase a frase, parágrafo a parágrafo, texto a texto. Sem jogo de cintura para dancinhas, sem a pressa das redes sociais, sem me preocupar com os likes e sem torcer o nariz para as novas mídias. Cada um nada na sua praia, mas algumas têm bandeira vermelha e eu prefiro não ser levado pela correnteza.
Esta crônica não rende uma dancinha no TikTok, não me rende dinheiro, não traz lições de moral pré-cozidas, não motiva ninguém a trabalhar enquanto eles dormem, nem serve para nada num sentido utilitarista. Prefiro assim.