Copa

16 de novembro de 2022 1 Por Leandro Marçal

Falta pouco, serão 28 dias de um único assunto importante de verdade, a Copa. Assim, com a intimidade da palavra única. Copa do Mundo de Futebol Masculino, seu nome completo, é coisa de pai e mãe dando bronca no filho.

Eu sei que é bizarro ver a Copa no fim do ano, eu sei que a escolha do Catar é uma aberração, eu sei dos direitos violados por lá, eu sei das sacanagens das federações esportivas, eu sei que o mundo não para de girar, eu sei que muita gente não entende o futebol como metáfora da vida fora das quatro linhas.

Deve ser bem mais sem graça a vida de quem não se atenta ao esporte, deve ser sem sal a rotina de quem não dá a mínima para o mês de jogos de manhã e de tarde e de noite, com programas repercutindo as partidas jogadas e especulando sobre os confrontos do dia seguinte.

Nós passamos o tempo esperando a próxima Copa. Lembramos fatos importantes da vida a partir da Copa. Sabemos onde estávamos em cada jogo importante das Copas. Comemos Copa, bebemos Copa, interpretamos a Copa porque nesses dias só a Copa importa, o resto é coadjuvante e até figurante.

Atire a primeira pedra o funcionário padrão que nunca deu seu jeito de adiar reuniões para não perder aquele jogo da primeira fase. Me julgue se você nunca manteve uma planilha reserva para o caso do seu chefe aparecer de repente, enquanto você mais se preocupava em acompanhar as oitavas de final na tela do computador da firma.

Sempre há os cagadores de regra, criticando nossa atenção excessiva, supostamente excessiva com “essa tal de Copa que não muda a vida de ninguém”, enquanto os verdadeiros problemas da política e da sociedade seguem sem solução, como se fôssemos um bando de alienados, zumbis seduzidos pelo futebol, sempre o futebol distraindo essa gente alienada e pouco intelectualizada, não é mesmo?

As aulas de geografia, geopolítica e relações internacionais que a Copa me deu estão entre as mais importantes da minha formação ‒ a Fórmula 1 e as Olimpíadas também foram excelentes mestres. Não posso esquecer os hinos, a Copa também nos permite identificar a melodia que identifica este e aquele país. História e cultura são outras disciplinas obrigatórias para nós, alunos da Copa.

Será um breve tempo de recusar convites para o horário dos jogos, ignorar mensagens enviadas no meio das partidas, fingir-se de surdo se tocarem a campainha para entregar encomendas compradas há meses. Peço, encarecidamente, que evitem visitas desavisadas, minha agenda está fechada por motivos de futebol.

Aos que sofrem e torcem e distorcem pela seleção brasileira, aceito convites para bater bons papos, mas já adianto que a Copa é tão grande, é tão maior que a gigante camisa amarela… não levem para o lado pessoal.

Desde a última Copa, abri mão do álbum de figurinhas. Isso é coisa para os fanáticos e esse não é o meu caso, definitivamente.