Chama o Batman!

18 de março de 2024 0 Por Leandro Marçal

Você já ouviu a frase-padrão repetida por algum papagaio sem criatividade e neurônios. O contexto não muda: é sempre a réplica infantil para rebater críticas a ilegalidades em ações policiais. Acuada contra a parede, a ratazana desesperada sugere o apelo imaginário ao homem-morcego caso você seja vítima da violência urbana. Só falta usar o péssimo “não ironicamente falando” como alerta, repetindo a expressão esdrúxula usada por internautas nesses tempos de rara interpretação de texto.

Do lado de cá da civilização, ninguém é defensor de bandidos. Pouca gente lembra, mas existe um item muito útil chamado “lei”. Que precisa ser cumprida por todos nós, cidadãos e cidadãs. Inclusive aqueles e aquelas de farda. Porque menos gente lembra que nós, civis, damos a militares o direito de andarem para lá e para cá portando armas em troca do dever de servir e proteger. Teoricamente, eu sei. Para o cumprimento da lei, aquele item útil. E descumprir a lei para garantir o cumprimento da lei não faz o menor sentido, convenhamos.

E talvez menos gente lembre que militares e profissionais da segurança pública são servidores públicos. Que devem satisfação a nós, contribuintes. Se você é do tipo que sente revolta porque políticos pilantras têm o salário pago pelos nossos impostos, não custa refrescar a memória: vale o mesmo para a turma que não é o Batman. E que deveria respeitar a lei, mesmo quando aborda gente desrespeitosa à lei. No mundo da racionalidade e do bom senso, parece simples. Mas a racionalidade, o bom senso e as leis não são tão valorizadas quanto deveriam.

Quando fui abordado muito educadamente enquanto pessoas negras ao meu lado tomavam tapas sem motivo, quando a região onde moro vive um massacre à luz do dia como vingança à trágica execução de agentes da lei (mataram até gente cega), quando não se cumpre o devido processo legal em supostas e estranhíssimas trocas de tiros, quando viaturas param no meio da calçada sem o menor constrangimento ou entram na contramão de forma aleatória apenas porque sim, quando a morte é política de Estado, bem… Quando tudo isso acontece, os meus impostos pagam salários de quem não deveria, de quem não está nem aí para aquela tal de lei, de quem só se importa com poder e não com segurança pública, nem com servir, nem com proteger.

Nunca fui um grande fã de filmes de super-heróis, então não tenho motivos para chamar o Batman. Direitos humanos são para todos os humanos, incluindo aqueles que devem pagar à sociedade por ferir direitos humanos por seus crimes cometidos. Do lado de cá da civilização, ninguém é defensor de bandidos, sejam descamisados, fardados ou engravatados.