Apesar do Brasil

10 de janeiro de 2022 0 Por Leandro Marçal

Apesar do Brasil, e do Bolsonaro, e dos bolsonaristas desavergonhados, e dos bolsonaristas disfarçados de arrependidos, e das comparações descabidas entre esse imbecil e qualquer outro ser humano, e das rachadinhas, e das milícias, e desse estranho tesão por armas e morte, e do Moro, e dos moristas, e da extrema-direita, e do centrão, e dos militares grudados às mamatas, e das brigas desnecessárias na esquerda, e da baixeza prometida para a eleição deste ano, e do judiciário, e das regalias, e das elites, e do corporativismo, e das fake news, e de tanta gente passando fome, e de voltarmos ao mapa da fome, e de cada vez mais gente morando nas ruas, e da inflação escalando, e do desemprego de mãos dadas com a inflação, e da dificuldade em manter um padrão de vida minimamente decente, e das queimadas incentivadas por uma gente cretina, e da escassez de saneamento básico, e da escassez de educação de qualidade, e da escassez de saúde de qualidade, e da escassez de futuro, e da tentativa de reescrever o passado, e dos idiotas que pensam na privatização até do oxigênio como resposta a todos os problemas da administração pública, e dos idiotas que batem palmas para o horror das ditaduras, e dos idiotas que desacreditam a ciência, e dos idiotas que superlotam as redes sociais, e da superlotação das cadeias, e das violações de direitos humanos, e do racismo, e da homofobia, e do machismo, e dos feminicídios, e dos assédios, e da intolerância religiosa, e do fanatismo religioso, e dos amantes das teocracias, e das políticas de insegurança pública, e do abuso de autoridade diário nas favelas e contra os menos favorecidos, e da ignorância,  e dos acidentes de trânsito, e dos idiotas no trânsito, e das carteiradas, e dos você sabe com quem está falando?, e dos jeitinhos, e das gambiarras, e dos puxa-sacos, e dos preconceitos, e das ignorâncias, e da pouquíssima leitura, e dos ataques à cultura, e das manipulações, e da Constituição pisoteada diariamente, e da Justiça seletivamente cega, e das tragédias, e dos omissos, e dos covardes, e dos mentirosos, e do individualismo, e do egoísmo, e dos coaches, e da autoajuda, e da desesperança, e da vontade de pegar minhas coisas e ir embora daqui antes de lembrar que não tenho para onde ir e me desanimar outra vez, e da indignação que não passa quando leio o noticiário antes de me dar conta que essa indignação não deve passar mesmo para eu não perder minha humanidade, e das desumanidades, e dos perigos, e de todos os problemas que eu e você e todo mundo sabemos e encaramos diariamente mesmo com um desânimo aqui e uma falta de perspectiva ali.

Apesar do Brasil, eu só tenho o Brasil, eu acredito no Brasil. Não neste Brasil, mas em outro Brasil.