Sou mesmo um escritor?
De tempos em tempos, uma pergunta ingrata e sem resposta definitiva prepara um banquete na minha mente. Sem reserva ou aviso prévio. Entre um prato feito e a espera pelo garçom, a dúvida na mesa é se realmente sou escritor, ou apenas uma criança jogando videogame com o controle quebrado, distraído pelos adultos na sala, tão interessados em assuntos de gente grande.
Não sonho com tapetes vermelhos, outdoors e pizza grátis. (Se me oferecerem uma de pepperoni sem custos, não vou negar, é claro). Mas dia sim, outro também, a tal síndrome do impostor faz uma ronda e ouve um “circulando, circulando”, a depender da minha saúde mental.
Ganho a vida com textos em formatos diferentes, com linguagens e vozes estranhas a mim, sempre a gosto do cliente. Esse mês, comecei a dar aulas sobre o ofício da escrita, aqui perto de casa. Publiquei dois livros, tenho projetos para o ano que vem e uma dúvida para agora: sou mesmo um escritor ou é tudo um delírio?
Pensei muito nisso antes do evento online que discutiu meu segundo livro. Nas semanas de divulgação, meu medo era ser desmascarado em praça pública para dezenas de pessoas conectadas. Ali, um julgamento em tempo real me condenaria à vergonha eterna. Nas ruas, apontariam para mim como a vergonha da cidade. Em redes sociais, fakes me chamariam de “Leandro Farsal”. Portais sensacionalistas procurariam meus familiares e vizinhos por dias, pedindo entrevistas para a publicação de reportagens rasas, mas com muitos cliques, sobre o caso do falso escritor vicentino.
Como vocês sabem, nada dessa paranoia aconteceu. O evento conseguiu dispersar minha incredulidade, continuei escrevendo para pagar as contas, os rascunhos se amontoaram ainda mais nas pastas muito bem organizadas do notebook e tudo indica que meu novo livro sairá no próximo ano. E agora que a vida está voltando a alguma normalidade, não é raro me perguntarem sobre projetos, quase sempre se referindo a futuras publicações escritas. A palavra escrita. Não tenho mais como fugir disso, seja como pessoa física ou jurídica.
Como já disse outras vezes, escrever Minhas Coisas é um processo difícil de explicar, mesmo que nelas eu até me vingue das picuinhas cotidianas. E ainda que eu tenha até um currículo para apresentar meus textos descartáveis e um portfolio com os escritos autorais, ainda me pergunto, com toda a sinceridade do mundo: sou mesmo um escritor ou não passo de um charlatão?
Enquanto não encontro resposta definitiva e convincente, sigo escrevendo, sem grandes preocupações em ser lido, compreendido, encontrado. Essas coisas.
Querido Leandro, seu dilema é meu também… Mas resistir é preciso! Sem escrever a vida perde a razão.