Sou fã
Sou fã de muita gente. Não falo, especificamente, de gente famosa, com feitos reconhecidos por multidões, de gente abordada nas esquinas para tirar fotos e dar autógrafos. Também sou fã de gente comum, de muita gente comum. Gente que passa anônima na fila do mercado, mas carrega histórias incríveis e feitos capazes de renovar a nossa fé na humanidade.
Claro que sou fã de grandes artistas, com trabalhos inspiradores, animadores, deslumbrantes. Com trabalhos facilmente lembrados por diferentes gerações. Como não ser fã de quem expressa o que nem sabíamos que sentíamos? Impossível não ser fã de quem cativa pessoas tão diferentes e tão iguais.
Sou fã de grandes esportistas. Homens e mulheres que dedicaram a vida ao alto rendimento. Que chegaram ao limite físico para alcançar resultados. Que abriram mão de muita coisa (cervejinhas, festinhas, até festas de família) para viver disso.
De figuras políticas, não me considero fã. Admiro algumas, respeito outras. Só, nada mais. Até sou fã de personalidades que transformaram o mundo por meio da política, porque tudo é política. Nada além disso.
Na minha condição de fã, guardo um lugar especial para quem exerce a vocação de pai e mãe com amor, dedicação e bom senso. Nesse mesmo lugar, cabem filhos e filhas lotados de afeto, com todas as complexidades do convívio diário. Quando vejo quem trata qualquer pessoa com fraternidade sem esperar nada em troca, digo mentalmente: sou fã.
Não é uma admiração acrítica, boboca, insensata. Obviamente, respeito a condição humana nos seres humanos. Somos todos complexos e cheios de defeitos. Só não erra quem já está morto, afinal. Nada disso me impede de ser fã. Não como o amigo internauta, fã doentio, que até briga com quem aponta equívocos humanos.
Sou fã de familiares próximos. Se não desistiram de mim, possuem um talento que ainda não compreendi (e nem sei se quero compreender). Pelas origens, por tantas histórias, considerando certos contextos e nunca ignorando tretas e mais tretas, impossível não ser fã.
Sou fã de amigos e amigas. Já fui fã de quem hoje me considera inimigo. Sou fã de amores e de ex-amores. De colegas de trabalho (alguns), de quem ficou na minha vida por pouco tempo, mas deixou marcas. E mesmo com o convívio breve e o distanciamento natural da vida, vejo notícias de certas pessoas, olho para trás e repito: sou fã número zero, sou fã antes disso ser moda.
Ser fã é estar numa arquibancada imaginária, torcendo pelas vitórias de quem admiramos. Lamentando derrotas e se conformando com os empates. Mas sempre ali, incentivando, sem deixar que desistam. De pé nos lances agudos. Aplaudindo, gritando, dando uma força. Comentando os resultados. Com orgulho de vestir aquela camisa, de defender aquelas cores, nas vitórias e nas derrotas.
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Essa foi a última crônica inédita publicada no blog em 2024. Nas próximas semanas, relembro textos antigos para ler nas férias. Volto com textos novos em fevereiro. Bom Natal e um grande 2025 pra todo mundo!