Sindicato de humoristas
— Tão sabendo da última?
— Claro, porra! Por que tu acha que tâmo aqui?
— Ui, ui, ui… Ela tá nervosa, ela!
— Rapaz, cuidado que pode dar problema.
— Puta merda, virou politicamente correto?
— Era só o que faltava.
— Faltava? Não falta mais, então?
— Não falta mais.
— Como assim?
— Esse aí, ó, tá com turma do mimimi.
— Disse até que não curte zoar essas coisas, é mole?
— Mano, não acredito!
— Pode acreditar.
— Vai vendo, pode acreditar.
— É o fim da classe.
— Sem união, vâmo pra onde?
— Mas e aí?
— Virou cancelador?
— Posso falar?
— Fala, chorão!
— Falta senso de humor.
— Velho, o mundo tá muito chato.
— Chato pra caralho!
— Tem regra pra piada agora?
— Pera lá, ele passou do ponto, né?
— Como é que é?
— Exagerou foi o meu pau, seu arrombado!
— Tu quer dar limite pra piada?
— Não é limite pra piada, foi pesado e…
— Humor negro, ué!
— Cuidado que esse otário vai te processar, hein?
— Se começar papo de limite pro humor eu vou embora, foda-se!
— Piada é piada.
— Mas tem a lei, discurso de ódio não dá, galera.
— Tá querendo prender humorista, porra?
— Não é bem assim…
— Não é bem assim o caralho, maluco, ouve a merda que tu tá falando!
— Tu ia gostar se falassem assim contigo?
— Não vem ao caso.
— Vem cá, tu é humorista ou advogado?
— Só acho que o bom senso…
— E quem define o bom senso?
— Isso é censura, pô!
— Claramente é censura.
— Censura, cancelamento.
— E politicamente correto.
— E politicamente correto!
— Vão ficar nessa? Vocês nem sabem o que é politicamente correto.
— Tem que zuar tudo.
— Tem que zuar tudo e todo mundo.
— E se não gostou, não assiste.
— Ele só testa os limites, pra dar polêmica e ganhar em cima.
— E tá errado?
— Olha o mundo à tua volta e…
— Piada é piada.
— Pra mim, piada é piada, mas crime é crime.
— E piada é crime?
— Tô falando que não foi piada, só ofensa. E crime!
— Vai se fuder, porra!
— Esses caras não aceitam piada.
— Quem vê pensa que humorista é criminoso!
— Não aceitam nada.
— Tu se acha o paladino da moralidade
— E faz tempo!
— Me admira um cancelador nessa sala.
— Ou tá com a gente ou tá contra!
— Não gostou, vaza!
— E isso aí é humorista, é?
— É do humor do bem, esse merda…
— Não é humor do bem, é entender que…
— Olha aí, não falei?
— Humor sempre ofende alguém.
— Desde sempre, mano!
— Aqui não tem espaço pra mimizento!
— Beleza, se não querem me ouvir, vou embora.
— Vaza, então!
— Se é por falta de adeus…
— Vai chorar na cama, vai!
— Tchau!
— Rua!
— Cancelador de merda!
— Vai pra lá com teu mimimi!
— Valeu, tâmo junto!
— Esse filho da puta já falou mal de mim, acredita?
— Sério?
— Sério.
— Aí não dá.
— Não mesmo, puta cuzão.
— E não era assim quando começou.
— Não mesmo, agora tá nesses papinho aí.
— Virou da turma do mimimi.
— Só pode, virou cancelador.
— É foda.
— É muito foda.
— Caralho… viram isso?
— O que rolou com o jogador lá?
— Na gringa, no estádio?
— Isso, no estádio.
— Puta merda, eu vi.
— Também vi.
— Absurdo.
— Absurdo demais, tá louco.
— Isso tem que acabar, não dá mais.
— Não mesmo.
Se essa crônica tivesse o título de BRASIL, muita gente não entenderia.