Sem nota, por favor
— Só um minutinho, senhor. Deixa eu ver aqui… Tem os das sacolas, aquele outro vai entregar na sua casa?
— Na minha loja.
— Na loja, perdão. Um segundinho. Deu isso.
— Tá bom.
— Parcelamos em até 12 vezes sem juros, senhor.
— Vou pagar à vista.
— À vista?
— À vista.
— No débito?
— Não, dinheiro, mesmo. Tá aqui. Na mala.
— É bastante coisa, senhor.
— Eu sei.
— É… CPF na nota?
— NÃO! Hmmm… Não, não precisa.
— Tem certeza?
— Sim. Aliás, nem precisa da nota.
— Como assim, senhor?
— A nota. Fiscal. Não precisa.
— Mas é padrão, senhor.
— Eu sei, mas não posso… Hmmm, não quero. Sem nota, por favor.
— Tudo isso… sem nota?
— Tudo isso. Sem nota.
— No dinheiro vivo?
— No dinheiro. Esse.
— !
— É. Eu sei. Sem nota.
— Olha, preciso chamar o gerente, é tudo com nota aqui.
— Tá. Eu tô pagando tudo. Levando tudo. Vou pagar. No cash. Sem nota. Melhor pra mim. Hmmm… Bom pra mim. Legal pra vocês. Não?
— Senhor, sou só caixa. A orientação é emitir nota.
— Eu sei.
— Então.
— Então… Eu não posso pegar nota. Eu não posso pagar no cartão. Hmmm… Eu tenho que pagar. No dinheiro. Sacou?
— Não.
— Olha. Faz assim. Chama o gerente. Eu falo direto com ele.
— Senhor, eu sou só funcionário e…
— Eu sei. Tá certo. Mas tenta me entender. Sabe a minha loja?
— Sei. Perto do campinho?
— Isso. Então. Isso aqui é muito. Até pra loja. Sacou?
— Mas não vende bem? Tá sempre cheio lá.
— Não importa. É muito. Sacou?
— Acho que saquei.
— Então. Eu também saquei. Isso. Mas não pode. Nota. Sabe?
— Sei.
— Então?
— O gerente tá vindo.
— Se quiser, eu…
— Senhor, tem uma câmera ali. Não posso aceitar. Mas meu gerente. Olha aí.
— Pois não?
— Você é o gerente?
— Sou. Algum problema?
— Então. Olha isso.
— (…) Entra. Quer um cafezinho?
— Não. Só quero. Pagar. Sem nota.
— Entendi. A gente resolve isso. Ó, segura aí, avisa que tô em reunião. Já sabe, boca fechada…
— Não entra mosca!
— Sacou?
— Saquei.