Reagindo a “reacts”
Se não estiver fácil para conseguir um novo emprego que pague bem e valorize suas habilidades profissionais, sugiro investir na publicação de reacts. Para quem não tinha o desprazer de saber o que é isso, peço desculpas: são vídeos ruins de alguém vendo e comentando vídeos piores ainda. Não precisa investir quase nada e dá para tirar uma boa grana chupinhando o conteúdo alheio.
(Ou “conteúdo” alheio. Convenhamos: no mundo digital, qualquer besteira leva esse nome genérico. Tem vídeo de meia hora explicando temas complexos sendo chamado de conteúdo? Tem! Mas também tem postagem na academia com trilha sonora brega e mensagem motivacional criada por IA batizada de conteúdo. Quando meu intestino trabalha bem, vou ao banheiro produzir conteúdo mais relevante que muita coisa lançada na internet.)
Para ganhar fama on-line, não precisa saber quase nada. E ganhar dinheiro de gente otária com vídeos de react segue a mesma lógica. Basta investir num bom equipamento para colocar suas caretas num quadradinho pequeno, ridicularizando algum idiota falando idiotices em outro canal digital. Pagando por impulsionamento nas redes, qualquer idiota vai longe, confie no seu potencial.
Num tempo em que a assim chamada Inteligência Artificial rouba direitos autorais para responder perguntas bestas, não tem nada demais chupinhar o trabalho dos outros para pagar suas contas esbanjando uma suposta superioridade moral e intelectual.
Quando tenho a infelicidade de ser agraciado com a bem-intencionada indicação de um vídeo desses, acho o Faustão um visionário por ter comentado videocassetadas num programa de domingo na TV aberta durante tanto tempo. O apresentador não tinha vergonha de soar inconveniente enquanto ria da desgraça alheia.
Carentes de talento criam vídeos de react e se sentem o suprassumo da inteligência. Chegam a se intitular formadores de opinião e são capazes de passar duas horas palestrando sobre a extrema complexidade de sacadas pretensamente geniais sobre quem não tem vergonha de expor a imbecilidade em público.
Como a estupidez humana se expande tão rapidamente quanto o universo e seus mistérios, é fácil encontrar esse tipo de conteúdo. Ou “conteúdo”. Recomendo muita calma e pouca exigência.
No mundo on-line, sobram opiniões não solicitadas. Se a leitura fosse mais popular, dava para investir nas crônicas de reacts. Poderia me deparar com gente esculhambando meus escritos com pouco argumento e muito humor de qualidade duvidosa.
Fico tranquilo, ninguém vai perder tempo gravando um vídeo me ridicularizando por um texto. Mas se não estiver fácil para pagar as contas, fique à vontade. Sou compreensivo. Entendo e depois processo o desavisado por ganhar dinheiro às custas do meu conteúdo. Ou “conteúdo”.
