Previsão do tempo
Não corri porque ia chover. Pelo menos foi o que disseram na previsão do tempo, durante o jornal do almoço. O céu começou a escurecer lá pela cinco e meia, aí desisti. Não sou atleta profissional e a minha hipocondria, com o medo de ficar gripado, me fez ficar em casa. Não choveu, não corri. Xinguei a previsão do tempo, durante sua exibição no jornal da janta.
Tinha um amigo, nem sei por onde anda, que repetia uma frase clichê: “Deus me livre de confiar em mulher, político e previsão do tempo”. Eu mal confio em mim, mas ouço o que uma mulher tem a dizer, tento ler as entrelinhas do discurso político e presto atenção na previsão do tempo.
Tempos atrás, um meteorologista aparecia no jornal do almoço para anunciar a chuva na próxima semana, o sol forte no sábado para a sorte dos turistas, os perigos da maré alta numa cidade litorânea, a visita dos irmãos El Niño e La Niña, a tal zona de convergência do Atlântico Sul.
Hoje, com sorte, um jornalista lê o mapa. Um mapa bonito, com o nome do site no canto da tela. O mesmo site que entro de vez em quando para saber se a virada no tempo é fato consumado ou uma paranoia minha. Simples assim: eles entram no site, consultam o tempo para os próximos dias e jogam lá, pros milhões de telespectadores. Tão fácil, eu podia fazer isso de casa. Essa previsão do tempo pode até ser enviada por e-mail. Nessas horas, penso no desemprego dos meteorologistas, que nem podem mais enviar currículo para os canais de televisão.
Dois amigos me questionaram sobre esse interesse supostamente excessivo na previsão do tempo. Mas se cobramos mais precisão das pesquisas eleitorais, por que não monitorar de perto as afirmações sobre a água caindo do céu ou o calor nosso de cada dia? Em nome do compromisso com a informação, empresas jornalísticas deveriam investir pesado em agências de checagem especializadas nesse tipo de serviço: “é falsa a afirmação dada na quinta-feira de que o tempo no final de semana estaria propício para tomar um bronze na areia”.
Se você tem plantas em casa, entende o meu drama. A água da chuva é mais saudável do que a da torneira. Há o tempo certo de deixá-las no sol, tomar uma luz, colocá-las no quintal ou recolhê-las para não ficarem encharcadas. Nesse caso, a previsão do tempo é um serviço de utilidade pública mais importante que as imagens do prefeito inaugurando uma obra inacabada.
Nos últimos anos, o céu esteve encoberto diariamente, com um temporal seguido do outro, sem perspectiva de melhora. Menos mal que, aos poucos, o sol está voltando a brilhar, mesmo que eu ainda saia com um guarda-chuva na mochila por ser prevenido demais.
Espero nunca mais usar o tempo lá fora como desculpa para não correr uns poucos quilômetros.