Política adulta
Nessa ressaca pós-segundo turno das eleições municipais, muita gente respira fundo pelo fim da campanha eleitoral. Foi-se a correria de trabalhar dia e noite para convencer o eleitorado. Também tem gente com falta de ar pelos perfis de quem ganhou as prefeituras e câmaras municipais pelo Brasil. Compreensível demais, convenhamos.
Passei os últimos meses escrevendo roteiros para candidaturas conscientes de que a Terra é redonda. Candidaturas que prezam pelo mínimo de civilidade no mundo, mesmo com discordâncias pessoais aqui e ali. Não é fácil conquistar corações e mentes tão conectadas à superficialidade e à distração do cotidiano. Mas foi um valiosíssimo aprendizado, claro que foi.
Lendo pesquisas internas todos os dias – de julho até ontem, não tive sábados e domingos de folga –, achava tragicamente divertido ver supostas análises. Não bastassem alguns nomes renomados nos canais de notícias, que há anos não pisam num bairro periférico, o mundo digital nos presenteou com pseudocomentaristas de YouTube e outras redes. Cada opinião com pouco embasamento, repetindo senso comum, sem ter a unha do dedo mindinho encostando na realidade, me dava vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
Decepcionante, mas nada surpreendente. Não é novidade que as redes sociais dão fama a qualquer idiota, vomitando pitacos sobre qualquer assunto, enganando qualquer imbecil. Num tempo da política encarada como entretenimento, a tempestade perfeita não é só clichê. Se eu me alimentasse de otimismo cego, ficaria feliz por mais gente interessada em política. Mas se o interesse é raso, simplista e sem entendimento de como as coisas funcionam, não passa de ilusão.
Política é assunto chato. Lamento informar, mas essas doses de chatice são necessárias e até bem-vindas. Quando vendida como mais uma droga para nos livrar do tédio, é bom desconfiar. E precisamos de mais gente desconfiada.
Nesses anos vendo o noticiário e nesses meses vendo a engrenagem por dentro, reforcei a impressão de que não tenho estômago para a política institucional. Onde a arte do consenso exige negociar com quem pensa diferente e até com quem não pensa.
Fora da política, não há solução para os problemas da cidade, do estado, do país, do mundo. Dentro dela, a prática pode ser (bem) diferente das teorias. Existem acomodações não explicadas pelos livros.
Política é assunto chato porque a vida é feita de coisas chatas. Gente adulta sabe: política vai além do período eleitoral, política não é só partidos e conchavos. Até escolhas e atitudes banais, do cotidiano, são políticas. Na política adulta, nada se resolve fazendo beicinho e gritando para vídeos na internet. E demonizar a política é atitude de criança birrenta. Uma hora a gente cresce.