Pavão-humano
O pavão é uma ave exótica. O pavão chama atenção. De cores chamativas, abre o leque de penas para cortejar as pavoas. Sim, o feminino de pavão é pavoa. Pavoa é um nome bonito, não é? A pavoa é mais discreta que o pavão. Quase todas as aves têm fêmeas menos vaidosas e carentes de atenção que os machos. Acontece em outras espécies também.
Já o pavão-humano é um personagem esdrúxulo, que luta para chamar atenção a qualquer custo. Tem quem use a expressão “síndrome de pavão” para se referir a pessoas exibidas, que mantêm o péssimo costume de contar vantagem com histórias não muito realistas. Assim como o pavão (a ave) abre o leque de penas para cortejar pavoas, o pavão-humano (o personagem) é cheio de si. Também é capaz de cometer barbaridades para se destacar na multidão. Ou mesmo nos pequenos grupos.
Você conhece um pavão-humano. Todo mundo conhece mais do que um pavão-humano. Se você não conhece um pavão-humano, talvez seja um pavão-humano. Sempre que possível, esse ser caricato usa o pronome “eu” nas frases. Sabe tudo, viveu todas as histórias, tem opinião formada sobre qualquer assunto. Dia sim, outro também, pega emprestado de outra ave o artifício do “peito de pombo” para vomitar certezas que julga incontestáveis.
Vaidade, orgulho e presunção são características do pavão-humano. Sempre insuportável, se sente um super-herói sem reconhecimento. Como se ao abrir o leque de penas, tivesse o poder mágico de atrair olhos e ouvidos, mentes e corações. Como se esse poder de sedução pudesse resolver todos os problemas da humanidade. Como se o planeta Terra não girasse ao redor do sol, mas em torno do pavão-humano.
Mesmo preocupado com questões ambientais, lamento muito por essa espécie não estar ameaçada de extinção. Pelo contrário, parece até que sua multiplicação é exponencial. Quem nunca se deparou com pavões e pavoas carentes de atenção e lotados de certezas? Porque para essa ave, o mundo é simples e fácil, especialmente quando moldado à sua imagem e semelhança. Seus voos são carentes de complexidades, mas lotados de excessivo amor-próprio.
Se encontrar um pavão-humano por aí, dê orientações. No dia a dia das cidades, no trabalho, na família e nos relacionamentos, essa ave se perde porque se acha. Por mais cruel que possa parecer, é bom cortar suas asinhas de vez em quando. E se tiver suspeitas de ser um pavão-humano, sugiro parar, respirar, olhar para dentro de si. Guarde o leque de penas para usar apenas em ocasiões especiais.
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