O militar brochou
Como todo bom militar que se despreze, ele prometeu muito antes do evento. Quis se mostrar o machão, excitar aquela estranha gente tarada por fardas, mesmo desistindo de usar a sua por recomendação de colegas. Mas no dia D e na hora H, honrou o hino nacional com seu órgão deitado eternamente em berço esplêndido.
“Isso nunca aconteceu comigo”, tentou se justificar, aumentando o constrangimento dos presentes no bacanal televisionado. Aos amigos, o militar confessou tremer de medo. Não se sentia à vontade e pedia sugestões de boas desculpas para não comparecer. Sem trocadilho. Imprudente e prepotente, criou expectativas, garantiu que iria fazer e acontecer, tentando desviar o foco das pernas bambas para intimidar os presentes. Mas, se mostrou um impotente.
O brocha usou gravata verde e amarela. Sua voz exaltada tinha altos e baixos, sem seduzir ninguém. Virou chacota, chacota sempre foi. Militar, se achava acima de todas as regras, até as da natureza. Irritado, movia o pescoço quase invisível e tentava provar que não, não tinha brochado. Era questão de ponto de vista.
O militar queria se provar o mais macho do recinto. Sem farda e sem fralda, ficou intimidado. Viu órgãos passando para lá e para cá, alguns grandes demais, e sentiu saudades da caserna. Poderia ter ficado quieto, num canto, garantindo o alto salário sem esforço, esperando o momento de ir para a reserva. Deu um passo maior que a perna.
Agora estava ali, humilhado em praça pública. Tentava enganar a realidade. “Não brochei, nunca. Isso é fofoca dos comunistas!”, chegou a esboçar, na esperança de seu órgão dar sinal de vida. Seguia dormente. Ao seu redor, apontavam o vexame, riam de sua cara, faziam perguntas sobre o motivo daquele homem com disfunções sérias ter entrado ali.
Pau mole. Seis e meia. General Impotência. Foram vários os apelidos dados ao militar e repetidos sem cerimônia. Enquanto todos se lambuzavam, ele olhava com cara de cachorro pidão e se enchia de raiva por não aproveitar um pouco da suruba.
Com o passar do tempo, foi ficando mais irritado. Nada pior para um militar do que ter a macheza questionada. Naquela hora, lembrou os alertas dados por conselheiros. Deveria seguir o bom senso, ouvir os especialistas e se consultar com quem sabia do assunto antes de se meter num buraco daqueles. Sem trocadilho. Mas ele era o militar, o expert, o garanhão.
Passou vergonha. E envergonhou os colegas de farda. Todos. Que negam, é claro. “Ele não brochou, não, foi só uma fraqueza. Aquele bando de depravados quer manchar a nossa reputação”, repetem aos gritos, tentando salvar o companheiro de armas sem bala. Uma cobra sem veneno e prestes a desmaiar por falta de oxigenação no cérebro. Sem trocadilho.
O militar falou, falou, falou. Só convenceu aquela estranha gente tarada por fardas. No mundo do bom senso, ele não passa de um asqueroso pago com dinheiro público. Infelizmente. Não passa de um verme, um vírus, um lixo sem direito à reciclagem, um peso na Terra. Para isso não há tratamento, ao contrário da disfunção erétil.
Esse apego pela farda é o principal sinal da nossa infantilidade como nação.