Meu time é perseguido
Perdemos ontem. Assim, na primeira pessoa do plural. Não digo que eles perderam porque somos, no plural mesmo, somos muito mais do que os onze em campo. Somos um estado de espírito, uma filosofia, um estilo de vida. Nem dá para explicar esse sentimento. Por isso, incomodamos. E por isso, perdemos ontem.
Já nem me irrito tanto, tudo está tão escancarado. A armação fica cada vez mais evidente, só não vê quem não quer. Sempre dão um jeito de prejudicar o meu time. Um regulamento contra as condições do estádio, um árbitro que há doze anos falou mal do meu time numa festa de debutantes, a repetitiva aplicação correta das regras para garantir a nossa derrota. Um escândalo, um absurdo. E ninguém faz nada, e ninguém se mexe.
O meu time tem uma história limpa, sem manchas, cheia de glórias. O meu time nunca tentou se aproximar dos poderosos para garantir benefícios, como perdão de dívidas milionárias e outras vantagens financeiras. O meu time nunca foi desonesto com atletas e rivais. O meu time nunca deu um jeitinho, nos bastidores, de levar vantagem nas finais. Claro que não. O meu time, o nosso time, é um exemplo.
E é por pura inveja que jornalistas, sempre jornalistas!, publicam matérias negativas e sensacionalistas. Fazem questão de olhar o copo meio vazio, escancaram qualquer errinho e pequeno vacilo nas manchetes, em letras maiúsculas, na página inicial dos portais.
Escândalo, exclusivo, urgente. Qual a necessidade disso? Ninguém é perfeito. Quem não comete pequenos deslizes no cotidiano? E qual o problema do meu time dar um jeitinho para seguir adiante? Vão me dizer que essa gente, cheia de razão e moralidade, nunca fez uma maracutaia? Querem pegar no pé do meu time de graça. Se depender dessa raça, o meu time vai à falência.
Quase foi, é verdade. Mas divulgar o balanço financeiro, falar de transações sem transparência e expor para Deus e o mundo que serão anos pagando dívidas trabalhistas não ajuda ninguém. Deviam agradecer, jogar junto, olhar o lado positivo das coisas. O meu time já ajudou muita gente, fez caridade, mudou a vida de jogadores e funcionários que vieram de baixo. Disso ninguém fala.
Se fosse só isso, talvez eu nem reclamasse. Fiquei com mais raiva porque ontem o narrador gritou alto demais nos gols da derrota. Presto atenção nele faz tempo, claramente torce pelo rival. Um tempo atrás, assinei uma petição on-line contra a escalação desse palhaço nos jogos do meu time. Queríamos um narrador imparcial, que não gritasse gol mais baixo quando o meu time fizesse gol. Se fosse mais alto, paciência. Para variar, ninguém da televisão atendeu a nossa torcida.
Porque o meu time é perseguido, pela mídia, pela federação, de vez em quando até pela polícia militar quando brigamos, acho até que pelos moradores dessa cidade capenga. Ser perseguido pelos rivais eu até entendo. Eles têm inveja do meu time, é muito fácil ter inveja do meu time. O meu time é diferente dos outros times.