Meias reservas

7 de setembro de 2019 0 Por Leandro Marçal

(A crônica transcrita abaixo surgiu de um post no Facebook. Era para ser só isso: um post no Facebook. Virou uma pequena crônica. Está sem edições, do jeito que postei no meu perfil pessoal.)

Nesses dias de chuva, ando com um par de meias reserva na mochila quando vou ao trabalho. Eu sei, pessoas que andam com par de meias reserva na mochila estão no mais alto nível de excentricidade.

O par de meias titular molhou e por isso me achei muito esperto (“tenho um par de meias reserva!”, pensei), fui ao banheiro e troquei de meias.

Fui almoçar fora e entre uma e outra poça d’água, molhei o tênis. EXCESSIVAMENTE. E molhei o par de meias reserva. O par de meias titular ficou molhado pela manhã na parte da frente, entre os dedos. O par de meias reserva molhou toda a parte de baixo.

Se minha mãe lesse isso, ia me cobrar outra vez sobre a compra de um par de tênis novo e eu responderia que sou um falido, não posso comprar nada. Não consigo, não dá, não sobra. Sou um falido, mãe: o tênis fura, o guarda-chuva tem goteira, o pé molha e só seca à noite, depois do banho.

Até chegar em casa, só vou pensar no meu pé molhado. Os problemas, as contas atrasadas, os devedores que não me respondem, as ligações do banco, o país em frangalhos, o desemprego virando à esquina outra vez, a imbecilidade do trânsito em dias chuvosos. Nada mais importa.

Nas próximas horas, só vou conseguir pensar no meu pé molhado, no par de meias reserva, nessas manias. Etc etc.