Legendas artificiais

5 de fevereiro de 2024 0 Por Leandro Marçal

O 5º dia útil é depois de amanhã, chance de dar uma oportunidade ao meu 4º livro, que completou dois meses de lançamento na semana passada. O último a ser escolhido traz 13 contos atravessados pelo futebol, como personagem, espaço, cenário ou pano de fundo. NESTE LINK, coloquei todas as informações sobre sinopse, compra e envio. Também tenho exemplares comigo para enviar já com a dedicatória, é só chamar pelo marcal_91@hotmail.com.

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Outro dia, perguntaram se acho que a inteligência artificial vai roubar muitos empregos (como o meu) num futuro que já virou a esquina. Não soube responder, mas com tanta instabilidade, precariedade, salários baixos e vagas raras, sei que o melhor é entender (ou tentar entender) como esse negócio funciona.

Parece medo de não falar besteira. E é mesmo! Ter medo de falar besteira é um bom jeito de evitar falar besteira. Por qual motivo eu me atreveria a prever o tal do mercado nos próximos anos, se não me aprofundei no assunto, se não sou especialista em tecnologia (nem em nada na vida), se não durmo com apocalípticos jurando que O Exterminador do Futuro foi profético e nem acordo ao lado de quem acredita na inteligência artificial como o caminho para a paz no mundo?

De uma coisa, tenho certeza: as legendas geradas automaticamente por inteligência artificial são ruins demais. Uma merda, um lixo, uma droga, uma porcaria. O xingamento que você preferir. Infelizmente, existe a moda nas redes sociais de colocar letrinhas embaixo da tela. Pagar para alguém ter o trabalho de ouvir o vídeo, escrever e sincronizar segundo a segundo é coisa do passado. Já existem programas e sites e aplicativos que fazem o trabalho sujo com poucos cliques.

Você dá play (ou não, são muitos vídeos inúteis com reprodução automática) e seus olhos são atraídos para as legendas incompreensíveis para um ser humano normal. O robô não entende o fim de uma palavra e o começo da próxima, então cria uma frase incompreensível, sem o menor sentido nem o mínimo de constrangimento, porque robôs não sentem constrangimento.

A inteligência artificial não liga se o meu Leandro Marçal de batismo virar um “lê hã do mar, sal”. Dá pena de quem deixou o volume baixo na inútil esperança de entender a mensagem vazia de mais um conteúdo dispensável da internet.

Alguém poderia ter a ideia genial de combinar a IA com o trabalho humano. De um jeito simples: o robô faz o trabalho chatíssimo de criar a legenda automaticamente e uma pessoa revisa, para não deixar passar nada. Mas se o mercado é instável, as condições precárias, os salários baixos e as vagas raras, por aqui a leitura também é escassa. Tanto faz, tanto fez. É só colocar umas letrinhas ali embaixo com um visual bonito e colorido. Se ninguém entender nada, que haja um bom engajamento.

Tem quem fale numa democratização do acesso e não dá para discordar. Nada mais justo do que colocar legendas automáticas geradas por inteligência artificial nos vídeos em shows e baladas, cantando para a câmera, o som lá no talo, estourado e impossível de entender.

Não sou avesso às novas tecnologias, mesmo quando me atrapalho um pouco. Esse costume esquisito de buscar sentido às palavras escritas é coisa de gente ultrapassada, desacostumada a vídeos na internet de poucos segundos, narrados por uma voz metálica, também parida por inteligência artificial, com menos carisma do que a minha caneta de quatro cores.