Estudos sobre a maconha

11 de fevereiro de 2019 2 Por Leandro Marçal

Tenho medo de altura, grandes concentrações de água e pouca resistência a dores. Minha hipocondria traz questionamentos sobre os melhores remédios e chás caseiros. Insone, tomo dois comprimidos diários, capazes de derrubar um elefante.

Até gosto de esportes, corro diariamente, mas prefiro assisti-los pela televisão. Nela, ouvi falar em Bob Burnquist pela primeira vez. Eu acordava cedo aos domingos e me impressionava com as narrações e comentários ensandecidos de atletas aposentados e outros especialistas em skate. Confesso: não entendia nada. Ainda assim, achava – acho – o máximo ver os malucos girando no ar, correndo o risco de se quebrar em milhares de pedaços após tombos cinematográficos.

Por isso, aceitei a indicação do Instagram e segui o skatista de nome complexo – descobri há poucos segundos que Burnquist não é um apelido mirabolante e espero que isso não abale as próximas linhas.

No ponto de ônibus, via as últimas fotos esquecíveis. E me surpreendi quando o atleta compartilhou uma série de dados sobre o uso da maconha para fins medicinais. Em tempos de jacas maduras, foi de uma coragem necessária. Fiquei espantado ao fazer a óbvia associação do uso da cannabis para os tratamentos de ansiedade e depressão.  

Fiz questão de não ter o desprazer de ler conservadores morais brigando com os fatos nos comentários. Vibrei como um narrador de competição de skate ao ver Bob destruindo argumentações rasas. Perdi o ônibus ao perceber que poderia diminuir consideravelmente o número de comprimidos se o poder público respeitasse a ciência.

Esqueci os dados sobre o percentual de pacientes que apresentaram melhoras consideráveis em tratamentos dessas e de outras doenças. Pensei na superlotação carcerária, em pastores gritando pela família brasileira, nessa guerra perdida há tempos contra as drogas, nos estigmatizados.

Quantas crises de excesso de pensamentos eu poderia ter evitado se a medicina dispusesse de mais informações sobre uma planta que dá na terra? Quantos dias eu poderia ter saído da cama se essa erva fosse vista como o boldo e a arnica?

Senti a mesma indignação de quando um velho amigo comentou que só as células-tronco lhe devolveriam os movimentos do braço paralisado. Se a pressão de igrejas causou sofrimento até ao Super-Homem, o velho amigo deixou de sonhar e só buscava uma adaptação.

Passei a curtir todas as fotos e dar mais atenção a tudo que Bob Burnquist tem a dizer em suas redes sociais. Não há quem me convença a usar um capacete, remar com os pés e sair por aí com o vento na cara.

Quando entrei no ônibus, sonhava com menos atraso e mais estudos sobre maconha para aliviar sofrimentos, sem gente presa por tragar sua fumaça nos momentos de lazer. Olhei para os bancos e imaginei quantos passageiros defendiam punição dura para quem comete abortos. Apostei comigo que por ali houvesse gente radicalmente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Queria ver um mundo melhor e com menos atrasos piorando a vida de tanta gente, mas é mais fácil eu aprender a andar de skate.