Esse casal não combina
— Como assim, não combina? Tu diz a roupa?
— Não, pô. Não combina. Junto. Não orna, saca?
— O estilo?
— É. Eles nem se parecem…
— Claro, é um casal, não são irmãos.
— Ai, como tu é babaca. Casal tem que combinar. E esse aí não combina. Não dou muito tempo pra ir cada um pro seu canto, não.
— Nossa, meu… Tem nada a ver.
— Nada a ver?
— E o “os opostos se atraem”?
— Frase de efeito.
— Frase de efeito?
— É, frase de efeito. Se o casal não combina, não dá certo.
— Conta mais, explica direito.
— Presta atenção. Olha ela: bonita, estilosa, bem vestida, cheia de si, chama atenção em qualquer lugar. Alto nível, classuda, elegante. Agora ele: todo troncho, tropeça no vento, anda esquisito, comum demais. É isso, ele é comum, normalzão, mais um. Ela é muita areia pra esse caminhãozinho véio. Não combina, tem nada a ver.
— Mas eles se gostam.
— E daí?
— E daí? Tem coisa mais importante?
— Isso é papo. Não dou muito tempo pra ela arrumar outro.
— Mas diz que até noivaram.
— Ah, é?
— É.
— Quer dizer nada.
— Eu sei.
— Então…
— Então?
— Então, uma hora ela acorda. Ou ele mesmo se toca e dá área.
— Que viagem.
— A minha? A dela, né? Merece coisa melhor.
— Quem sou eu pra dizer se combina ou não, pra dizer se merece ou não. Se os dois tão bem, tá bom. Eles se gostam, tá na cara.
— Se gostam, mas não combinam.
— Não é roupa pra combinar.
— Mas tem que combinar pra dar certo.
— Cada uma, viu…
— É a real.
— Sei…
— Sabe? Não parece.
— Não parece?
— Não, mesmo. Não sabe das coisas. A verdade é essa: esse casal aí não combina e já era.
— Já era?
— Isso mesmo. Já era. Não combina. Ponto.
— Tá bom, melhor mudar de assunto.
— Mas ela é linda mesmo, né?
— Isso é verdade. Ela é linda, mesmo.