Entra mudo e sai calado
Semana passada, tomei uma bronca do chefe porque interajo pouco com meus colegas de trabalho. Entrego as tarefas antes do prazo e já recebi elogios pelo desempenho profissional acima do esperado, mas o puxão de orelha foi pelo pecado mortal de não puxar assunto, não abrir a boca, não falar em reuniões. “Só” trabalho e desligo o laptop ao fim do expediente em home office.
Se eu quisesse fazer amigos ou jogar conversa fora, estaria em um bar, não na frente de uma tela escrevendo o que mandam. Pensei em voz baixa, bem baixa, com medo de vazar o som da minha mente pelo microfone conectado à reunião. Uma estranha reunião com umas broncas estranhas, pensei com a voz ainda mais baixa.
Talvez um dia os pesquisadores de Harvard concluam que o excesso de internet fez muita gente cair no papo furado dos coaches, levando a sério a anedota da galinha: seu ovo é menor que o da fêmea de avestruz, mas cada cacarejo é uma grande lição de marketing pessoal.
Ou, quem sabe, o bombardeio diário das redes sociais quase nos obrigue a chamar atenção a todo custo, o tempo todo. Nem tão jovem e nada velho, caminho no sentido oposto. Valorizo o silêncio do meu espaço, que não quero invadido, como não quero atravessar a linha divisória alheia.
Se isso é bom ou ruim eu nem sei, mas sou assim, fiquei assim. Quando uma pessoa faz questão de ser vista e demonstrar que chegou no ambiente, perco as energias. Esse jeito expansivo demais me dá preguiça. Falar alto sem necessidade, quase pedir pelo amor de Deus para que notem sua existência. Canso só de pensar.
Sou o tipo de gente envergonhada no oi e encurtadora do tchau. Sei lá, eu não sou tão importante assim. E nem quero ser, tudo bem, sem problemas. Ninguém precisa gostar de mim. Faz parte, acontece. A vida é curta demais para agir como em um concurso de popularidade e não sou competitivo nem no par ou ímpar.
Seguidores, curtidas, compartilhamentos, engajamento, crescimento. Não, obrigado. Estou bem por aqui, quietinho no meu canto. Não preciso de mais, nem ligo em me promover, caguei para a ambição. Me deixa de boa, por favor. Com os meus e com as minhas, sem precisar falar demais, agir demais, ser demais.
Nos pensamentos em voz baixa, eu pedia uma crítica técnica ao meu trabalho, mas preferi fingir concordância para encerrar o assunto. Naquela hora, me senti o médico que, depois de quase uma década de estudo, precisa fazer dancinhas no TikTok para se provar bom profissional.
Um dia depois da reunião e da bronca, desabafei sobre a sensação de sufocamento pela cobrança por falar sem ter o que falar. “Mas se tu preferia ficar no casulo, sem vontade de aparecer, por que escreve? As pessoas não precisam te ler, não querem te ler? De um jeito ou de outro, isso não te faz uma pessoa pública, tua voz não acaba meio ampliada?”, ela perguntou como se me desse uma facada.
“Não sei, não sei, não faço a menor ideia”, respondi olhando em seus olhos cheios de dúvidas.