Eis o mistério da fé
Sou contra fundamentalismos. Sejam religiosos ou não religiosos. O evangélico tentando me convencer a qualquer custo que sua fé é a única de respeito divide a mesa do bar com o ateu questionando a crença e o intelecto alheios sempre que pode.
Gosto de usar o termo fundamentalismo mais até que fanatismo. O primeiro está associado e ideias inflexíveis sobre determinados temas, quase sempre religião, enfatizando a obediência rigorosa e literal a um conjunto de princípios básicos. O segundo é o zelo, dedicação e paixão obsessivos, levando a extremos de intolerância. Quase irmãos gêmeos.
Sou agnóstico praticante. Respeito o mistério da fé, respeito a fé no mistério. Para mim, ser tolerante é respeitar a crença e a descrença. Quantas vezes você topou com gente religiosa atravessando a rua ao ver o ceticismo na outra calçada? E quantas vezes já ouviu risadas de quem julga fiéis como inferiores intelectualmente?
Aceito e agradeço rezas, orações, mantras, meditações, guias, passes, amuletos, intercessões de santos e orixás. Se o seu Deus me abençoa, fico feliz. Se os seus Deuses olham por mim, fico lisonjeado. Se as suas Deusas querem o meu bem, é uma honra. Se não tentam me impor dogmas, se não tentam me forçar sua visão de mundo, se propõem um diálogo respeitoso, bom para nós.
De criação católica, não frequento templos. Absorvi o que parece fazer bem a mim e às outras pessoas. Tento entender o contexto e reforçar o senso crítico para não ignorar os tantos males praticados em nome dessa religião, e de todas as outras, ao longo dos séculos.
Rejeito a arrogância de quem sobe num palanque para contestar a crença alheia. Dia desses, curti demais uma resposta do Bob Burnquist a Anita Krepp, em entrevista publicada na revista Breeza. Quando perguntando sobre religião, o skatista, identificado com aspectos do espiritismo, soltou essa: “(…) Qual seria a melhor religião? O agora. Para de pensar em tanta coisa assim. O que você pode fazer agora? (…) Nessa situação que você tá, como é que você pode ajudar? Sei lá onde você tá, na padaria e tem uma situação ali, um cara faz isso, sei lá, você tá ali no momento, qual é a melhor forma que você pode estar presente nesse momento?”
Com o passar dos anos, aprendi a respeitar a minha fé, a minha espiritualidade, o meu autoconhecimento, o meu ceticismo. Sem preocupação com definições e entendimentos rígidos. Convivo bem (e mal) com gente católica, evangélica, ateia, agnóstica, espírita, umbandista, candomblecista, messiânica etc. Suas atitudes contam muito, suas crenças pessoais são suas crenças pessoais.
Me identifico muito com sua visão da fé e do mistério. Também sou agnóstico e pra mim, o mais importante é cada um expressar pra si mesmo suas próprias convicções e a forma como enxerga o transcendente. Amém, Axé e Saravá pra todos!