Como curar a ansiedade

26 de abril de 2021 1 Por Leandro Marçal

“Tu precisa é parar de ver jornal, só tem notícia ruim. Tua ansiedade vai melhorar rapidinho”, ouço a receita mágica para a cura definitiva do transtorno. Terapia, atividades físicas para regular a serotonina, aprendizado e autoconhecimento. Nada disso importa, apenas soluções rápidas.

“Tudo coisa da tua cabeça. É só parar de pensar muito e se preocupar demais que a ansiedade vai embora. Longe de mim achar que é frescura, mas tu não tem nada de ansioso, não”, recebo com atenção o diagnóstico de um formando na escola da vida.

O maravilhoso mundo da coachlândia e a velocidade instantânea das redes sociais devem ter sua parcela de culpa. Não é possível que há anos eu continue penando com o mesmo problema. Quem se dispõe a incluir no assunto da rodada a própria saúde mental fragilizada já encarou a cara de decepção do ouvinte, como se esse jeito assim, ansioso, fosse questão de escolha.

“Vê se pensa mais positivo, te falta fé. Sabe que a ansiedade é culpa desse jeito pessimista, né?”, recomenda a entusiasta do estilo good vibes de ser.

Nessas horas, ouço a pregação do pastor da Empreendedorismo do Sétimo Dia, uma religião da moda. “Seja você a sua própria saúde mental”, me diz num tom de autoajuda, prestes a vender o Guia Prático e Definitivo de Como Curar a Ansiedade.

Faz sentido, por que eu não pensei nisso antes? Se eu sou ansioso, a culpa é minha. Se entro em crise, preciso mudar o mindset. Quando vou à farmácia trocar a receita médica por uma caixa de remédios, é sinal de que não encontrei meu propósito, capaz de transformar minha vida num comercial de margarina, sem imperfeições e com a felicidade por todos os cantos.

Caganeira. Enxaqueca. Tuberculose. Meras questões de escolha também, tanto quanto a ansiedade. E a covid-19, por que seria diferente? Talvez, se olhássemos o copo meio cheio, não precisaríamos usar máscaras para nos protegermos uns aos outros, uns dos outros.

Ansiedade, depressão. Como assim, tratamentos longos, às vezes muito longos, sem a perspectiva de uma cura total e definitiva, como quando eliminamos uma infecção com a metralhadora dos antibióticos? Será frescura? Se a resposta for sim, é possível estarmos diante de um novo método para tratarmos diabetes, pressão alta e outros problemas crônicos.

Basta pensar positivo, basta não se preocupar com isso. Seja você a própria cura da sua doença terminal.

Talvez eu precise dar mais ouvidos às revolucionárias fórmulas mágicas para esses, digamos, problemas simples de resolver. São os ansiosos e deprimidos que ainda não olharam, vamos dizer assim, para a solução. Estão admirando o problema apenas.

Ou, quem sabe, eu tenha dado a ideia para algum esperto escrever um livro, dar palestras e entrevistas em programas de tevê, rádio e podcast. Tem vários ganhando espaço assim, já reparou? Não vai curar a ansiedade de ninguém, mas render um bom dinheiro. Ô, se vai!