Passeio no shopping

28 de abril de 2025 0 Por Leandro Marçal

Quando li uma notícia recente sobre o início das obras para a construção de um novo shopping em Santos, me perguntei: para quê? Qual a necessidade de mais um amontoado de concreto, com lojas empilhadas vendendo bugigangas, na província de onde pouco tiro os pés?

Eu sei que o comércio gera muitos empregos na aldeia. E sei que dos primeiros rabiscos à inauguração de outro monumento ao consumismo, bastante gente vai ter um ganha-pão menos instável. Não precisa me explicar, não tem motivos para tentar me ensinar o óbvio.

Mas é estranho, bem estranho. Se eu não for tão ruim de matemática, será o quinto shopping center numa cidade de seus 430 mil habitantes. Na minha São Vicente, logo ao lado, tem um desses no Centro. Consigo ir a pé, coisa de dez minutos, até suas portas automáticas. Cruzando uma breve ponte e chegando a Praia Grande, outro shopping se expande para o azar de algumas árvores. No espaço, o suposto conforto no acesso a um hipermercado e a pistas de boliche. Já não está bom?

Outro dia, num evento do Sesc, conversávamos sobre esse lugar acessível, mas pouco acessado por quem não tem tanto apreço a atividades culturais não utilitárias. Numa região rodeada por praias, é chocante ver gente enxergando shoppings como lazer prioritário, olhando vitrines como cachorros se apaixonam por máquinas de assar frangos.

Lojistas pagam mais caro no aluguel. Compensam com altos preços, para o azar de consumidores encantados com escadas rolantes e estacionamentos espaçosos. Os pequenos comércios do entorno que se virem, a turbulência da concorrência desproporcional exige se segurar firme. Nem sempre é possível.

Não pense mal o leitor, não me julgue a leitora. Nada contra a existência dos shoppings, mas a minha vizinhança exagera. Existem lugares mais agradáveis que uma praça de alimentação para almoçar, jantar, comer uma porção ou tomar um choppinho. Temos praças (ainda temos!) e precisamos de mais parques para as crianças correrem livremente, sem o risco de se arrebentar num brinquedo inocente. O comércio não vive exclusivamente dos espaços minúsculos e empilhados, com fechamento padrão às 22h.

Talvez exista um fetiche por shoppings na cidade mais vertical do Brasil. Talvez os veículos de comunicação daqui achem o máximo, ninguém reclama de um patrocínio a mais, não está fácil para ninguém, nem para quem se vende como moderninho e descolado, nem para quem finge não se incomodar com a feiura arquitetônica desses espaços.

Quando leio títulos jornalísticos em tom efusivo, quando apresentadores sorriem ao falar da nova opção para a região, quando sou atropelado por propagandas otimistas, me pergunto: essa região, tão cheia de carências, precisa de outro shopping?