Cidade do litoral de São Paulo
Moro numa das 16 cidades do litoral de São Paulo. Para ser mais preciso: nasci, cresci e vivo num dos nove municípios da Baixada Santista, essa região fofa e simpática. Posso caminhar em linha reta por 1,8 km, sem sair da minha rua, até pisar na areia e ver o mar pessoalmente. Me sinto privilegiado por isso, não posso negar.
Mas quando acesso os sites de notícias da região onde moro, não me sinto privilegiado. Todas as manhãs, logo no começo do expediente, vou atrás dos fatos mais recentes sobre a tão querida província. E é só entrar nos não menos provincianos G1 Santos, A Tribuna e Diário do Litoral para cair num esquisitíssimo jogo de adivinhação.
Funciona assim: nos títulos das reportagens relevantes ou das matérias sobre banalidades dos arredores, parece proibido mencionar com precisão o local onde os fatos acontecem. Mesmo sem problemas de mobilidade, colegas jornalistas usam a muleta do “cidade do litoral de São Paulo” para atrair cliques de desavisados, como eu. Nada de nome próprio, escrito com letra maiúscula, deixa o otário clicar por clicar.
Porque, particularmente, meu interesse por uma briga numa rua de Peruíbe é consideravelmente menor do que buracos nas avenidas de São Vicente, onde perambulo todos os dias. Mas como um inocente caindo em golpes depois de clicar em links com promessas mirabolantes, fico bem informado sobre uma “cidade no litoral de São Paulo” com a qual não tenho conexão.
Precisamos tomar cuidado com a overdose de conteúdo irrelevante. Precisamos ter um pé atrás com as informações recebidas via redes sociais. Precisamos dar audiência aos sites de credibilidade. Precisamos ponderar tudo que sai em perfis no estilo Qualquer Bairro News, cujo compromisso com a ética e a verdade é menor que o apego ao sensacionalismo por mais cliques.
Mas de vez em quando, ou quase sempre, ou dia sim e outro também, os portais autointitulados sérios não se ajudam, convenhamos. Não quero ter que fazer malabares até descobrir se o tiroteio de ontem foi em Santos ou em São Vicente. Não quero preencher uma ficha em três vias para ter o direito de descobrir se o acidente automobilístico aconteceu no meu bairro ou em Praia Grande.
“Cidade do litoral de São Paulo” não quer dizer nada, mas diz muita coisa. Mesmo sem dizer. Talvez uma sobrecarga nas muletas. Certamente uma falta de precisão. Não serei maldoso para cogitar uma fartura de malícia, colegas jornalistas sabem que o termo entre aspas é inconveniente e terão a humildade de fazer essa autocrítica. Me sinto privilegiado por não ser obrigado a escrever essa expressão, não posso negar.
Já tinha percebido isso de A CIDADE DO LITORAL PAULISTA, como se os jornais fossem sediados em Quixeramobim. Nem olha mais